VOCÊ SABE O QUE É UM ENCOSTO?
Foi este um cartaz que encontrei outro dia numa praça. Afixado em um ponto de ônibus, chamou-me a atenção. Enquanto formulava todo o tipo de resposta, uma senhora de mais ou menos cinquenta e cinco anos, estatura média seios enormes e de corpo avantajado, era roliça, porém de uma gordura bonita e voz cativante. Como se estivesse lendo o que meus pensamentos indagavam, entregou-me sorridente um folheto com mesma pergunta, mas trazendo uma breve resposta abaixo “Encosto é um espírito maligno que se apodera da vida da pessoa causando todo tipo de mal: Olho Grande, Inveja, Nervosismo, Azar, Desanimo, Falta de sorte no amor, Insônia, Vícios, Depressão, Desemprego, Falência, Visão de vultos e etc”... Incrédulo, mas sem querer desrespeitar o trabalho daquela gentil senhora, perguntei sobre valores, por exemplo, para quem via vultos. Puxado sutilmente pela mão fui levado até uma porta estreita do outro lado da praça, subimos uma escada e entramos numa sala, onde se lia na porta “LIVRE-SE DOS ENCOSTOS”.
Algumas pessoas aguardavam em um banco, com olhares apreensivos pareciam culpadas de algo terrível, entre elas minha sogra que tentava se disfarçar com uma peruca Loura e uns óculos escuros. De cabeça baixa fingiu não notar minha presença. Sentei-me ao seu lado, sua respiração era ofegante e suas mãos suavam, não querendo quebrar o clima de suspense programado por ela virei o rosto para um livro que sempre trago na capanga e também fingi estar lendo, já que cada linha que eu lia do enredo a pergunta sobre o que estaria ela fazendo ali, falava mais alto. Tirei o celular do bolso ensaiando um atendimento, pedi licença aquelas sorumbáticas pessoas e desci a escada com pressa. Andei com o aparelho no ouvido dizendo nada com nada, até notar que havia me distanciado do local, mas a curiosidade me coçava o corpo como se tivesse rolado sem roupas em grama seca, fui obrigado a voltar. Para minha ingrata surpresa minha sogra e minha esposa saiam daquela portinhola assustadas olhando em todas as direções como se procurasse alguém.
Ao ver que as duas com seus disfarces de Teatrinho primário sumiram do meu campo de visão subi correndo as escadas e voltei ao lugar de antes. Aquelas pessoas sorumbáticas haviam sido substituídas por outras ainda mais sorumbáticas, que traziam nas mãos toalhas brancas e alguns ramos, puxei papo e uma delas dissera-me que ouvia vozes e na primeira consulta a “Mãe de santo” pediu que levasse aquelas coisas para o descarrego, outra do lado com seu olhar de depressão escorrendo uma babugem do canto da boca, disse que precisava trazer o amante de volta, ou então continuaria bebendo sem parar, ainda reforçou que na primeira consulta fora informada que mais três sessões de 500 reais cada o homem voltava. A sorumbática seguinte com seus galhos enormes de arruda e contrário dos outros a toalha era vermelha, com certa habilidade consegui perguntar qual o trabalho esperava, mas o sonolento paciente demorara alguns segundos para entender o que eu dizia, até que na terceira tentativa respondeu-me vagarosamente que o seu problema era o desemprego que durava mais de quarenta anos.
Depositando toda a culpa na família, que apesar de classe média não lhe dera o apoio para arranjar-se em bom emprego, e listou: “Sou analfabeto, porque nunca gostei de estudar, mas também não tive quem insistisse comigo! E por isso os empregos que me ofereciam eram de serviço braçal, com meus irmãos formados achei que fosse desrespeito eu entrar nesta profissão sem estatus. Por fim nenhuma mulher me quisera, decepcionado resolvi entrar para um grupo Gay, não que eu seja, mas somente para mostrar que sou capaz de alguma coisa na vida. Hoje descobri que tudo isto pode ser encosto, acredito que depois que tirá-lo do meu corpo, realizo meu sonho de trabalhar de ser uma famosa Drag-Queen”!