Quando um cientista vai ao médico
O momento ideal para um cientista, principalmente um físico, procurar um psiquiatra é quando ele não está precisando, pois ele não estará muito susceptível aos “trejeitos” terapêuticos do psicofarmacologista. Quanto mais um físico descobre novidades na ciência, mais ele publica artigos para registrar seus resultados e, de maneira não diferente, massagear sua vaidade intelectual. Entretanto, quanto mais se adquire conhecimento, o cientista se torna mais afastado da sociedade comum e mais próximo da verdade. Pedindo licença para entrar na religião, se Jesus Cristo é a verdade e ele faz parte da trindade: pai, filho e espírito santo, então o cientista conforme sua importância para a ciência aumenta ele se torna mais próximo de Deus. É onde entra a psiquiatria para dizer até que ponto “a reinvenção da ciência” é verdade. Se é que a verdade existe, ela deve ser decretada por um psiquiatra ou pela comprovação experimental muito embora esta última possa demorar? A sanidade mental de pesquisadores que ganharam o Nobel não é questionada, mas a lucidez de mendigos sim. Entretanto, ainda existem psiquiatras éticos cujo diagnóstico não é dito em tom de doença, mas sim de característica comportamental. Não entrando no aspecto clínico no seu sentido mais restrito: a consulta, prefiro ficar no aspecto público: a sala de espera. A sala de espera de uma consulta psiquiátrica sempre é peculiar: pessoas delirando; pacientes com vivências psicóticas; parentes sem esperança quanto a recuperação do ente querido e o cientista, que está no ápice de sua curiosidade e com sua equipe trabalhando a todo vapor, mas receoso quanto a consequência que os resultados de sua pesquisa possa acarretar. À medida que pacientes entram um após outro, o semblante dos familiares muda de triste para radiante. Quando chegou a vez do cientista entrar, houve o diagnóstico simples e direto, e o semblante do cientista que estava radiante passou para triste, pois o médico lhe orientou que descansasse (mesmo sem prescrever nenhuma medicação) com o argumento de que fazer ciência é muito mais desgastante do que clinicar pessoas com transtornos de comportamento. As pesquisas do cientista tiveram que ser interrompidas para que ele olhasse os outros setores de sua vida: o social, o familiar, o espiritual e o amoroso. O cientista demorou pra entender. No entanto, um mês depois ele percebeu que o sucesso em apenas um setor da vida é apenas o primeiro passo para o fracasso nos demais setores. Percebeu também que deve haver o equilíbrio entre os fatores que influenciam a felicidade e deixou de pensar que existem fatores determinantes, pois a felicidade não é determinado por fatores externos e sim parte de dentro para fora e quando um indivíduo está bem consigo mesmo independente do lugar ou de sucesso, ele permanecerá feliz.