8 de Novembro de 2013
Eram oito de novembro de 2013 e na capital interiorana do Estado de Pernambuco ocorria um festival de flores da cidade que mas produz no país: Holambra. Cidade de clima ameno -já que estamos no Nordeste- era ideal pra o garoto de uns 17 anos cultivar roseiras. Tomou gosto pela coisa, inclusive, há quase um ano nesse mesmo festival. Mini-roseiras é a paixão do garoto.
Moreno de estatura mediana, rosto triangular, olhos negros e estilo bem peculiar. Usa sempre um chapéu que encobre a cabeça raspada, e sapatos sem meias e cadarços. Com todo o seu conhecimento técnico na área, apressa-se no trabalho, pois a ansiedade falava mais alto no coração do jovem... rapidamente cumpriu com a promessa da tarde que era mais umas das coisas rotineiras do trabalho: cuidar da estética canina. Feito isso, sai. Vai embora. Chega em casa as pressas. A mãe ainda está ajeitando o sobrinho que vai acompanhá-lo ao festival pra conhecer mais um mundo antes inédito da criança de apenas cinco anos: flores. Garoto que sempre era confundido com garota por conta dos longos cachos que lhe encobriam as costas e os lados do rosto.
Enquanto sua mãe ajeitava o sobrinho ele ia tomando banho, sempre às pressas porque sabia que aina dependera do ônibus coletivo e do horário pra poder chegar a tempo. Era por volta das 17:00 quando os três saíram de casa. Isso mesmo. Três. Além do sobrinho, lhe acompanhara também um primo. Primo esse que levara consigo o cartão de crédito necessário às compras. Era uma semana difícil no trabalho, parece que todos os cachorros estão satisfeitos com sua estética que Há tempos não apareciam se quer, pra tomar um banho, ou apenas pra uma escovação rápida o que era de costume acontecer.
Enfim, saem os 3 de casa prontos pra matar a ansiedade que lhes consumia. Já no ponto, se sentam e ficam apenas na dependência do tempo. Tempo que passa e ao longe vários farois cada vez ficando mais visíveis e com eles ficava visível também a frustração nos rostos dos três coitados que esperam sentando num ponto, o ônibus que o conduzirá ao centro da cidade onde ocorre o tão sonhado festival anual. Depois de longas décadas resumidas em 30 minutos, ao longe, por trás de algumas árvores surgem 2 pares de farois e uma placa luminosa. Agora sim. Não havia dúvidas se seria o ônibus. O primo vai entrar por onde se gira a catraca, o outro com o sobrinho vai pela outra porta acomodar o sobrinho numa cadeira, desce do ônibus e entra pela outra porta pra também passar pela catraca ( regras banais de empresas...)
à medida que o tempo passava, o caminho ia ficando mais perto, quando de repente, se viram às quase Seis da noite, os três no mesmo local: O Festival de flores de Holambra. A lista era pequena: Orquídeas, mini cactos, bonsai, roseiras -é claro- e carnívora. Para a surpresa de Itallo e decepção do tio, as flores que tinham de nada se comparavam as do ano anterior. Mas mesmo assim continuaram. A cada flor nova ele apontava
-Olha Itallo, isso aqui é orquídea. Explicava o tio, sempre atento a ver as etiquetas e os preços de cada
-hu-rum... Murmurava ele. Em locais movimentados, era tímido, quieto. Totalmente diferente do Itallo esperto e treloso que é em casa.
Assim passaram alguns minutos e a primeira planta foi colocada na cestinha: uma suculenta que presenteara o menino. Em seguida veio uma mini roseiras de cachos cor de vinho aveludada. Logo após mais uma roseira, não mini. Comum. Com as mesmas características. Depois de longas voltas, perguntas aos funcionários, observações nas mais variadas flores, outra mini roseira. As orquídeas não lhe agradara, não atendia ao padrão pensado por ele. Os mini cactos chegariam naquela mesma noite, depois do expediente e os bonsais seguiam o mesmo rumo. Feito isso vamos ao caixa, e Itallo sempre curioso pergunta:
- ou Lucas, onde é que tão as plantas carnívoras? Daquelas que tu tinha que se fecha? Com uma memória excepcional -típica de criança- Itallo recordara de uma das dioneias que o tio comprara no último festival há pouco mais de um ano.
- elas ficam lá na mesa onde fica o caixa, você vai querer uma, é?
-vou sim, responde o garoto.
Compras feitas, vão ao caixa e lá escolhem a dioneia mais saudável para Itallo. Enfim, ansiedade morta, vontade de chegar em casa impulsionando os passos rápidos,os três seguem em direção ao ponto do ônibus que os levarão de volta à casa. Depois de mais alguns minutos esperando, comendo espetinho comprado ali mesmo, entram no ônibus, se acomodam e conversam. Itallo se queixa do frio -tinha razão, eram quase sete quando entraram no ônibus- Lucas o põe no colo para aquecer um pouco mais seu corpo magro, e o primo, Jonathan, senta-se cadeiras a frente do par.
Destino certo, esperam apenas chegar em casa para cada qual mostrar aos familiares as compras feitas. Era uma casa muito movimentada, sempre com as mesmas pessoas entrando e saindo. Descem no ponto mais próximo da casa, Lucas oferece a cacunda a Itallo. Itallo na cacunda, Lucas com uma mão segurava a caixa que comportava suas roseiras e eu do outro lado com alguns materiais comprado na outra mão. Enfim casa. Itallo desce da cacunda, Lucas coloca a caixa em cima do centro que ornamentava a sala, e cada um mostra as compras feitas.
Depois de muitas fotos tiradas, de muitas explicações sobre o festival e cada flor, Decido partir pro jardim, pra colocá-las no lugar que pensei desde que saí de casa: o jardim. Com todo o cuidado que tenho, a empatia visível com as roseiras, acomodo uma a uma próximo a mim, de cócoras no chão e pás de jardineiro nas mãos começo a cavar a cova que acomodará cada roseira. Na ausência de esterco, utilizo uma “terra pronta” vendida nos locais que frequento. Covas feitas, retiro a primeira roseiras do recipiente onde viveu pelo menos 6 meses, a acomodo na cova, e a cada movimentos os flashes se acendem capturando cada detalhe. Primeira roseira transplantada, repito o mesmo procedimento com as mini. Com a presença indispensável de um ilustre amigo: Matheus, tiro fotos com as roseiras nas mãos, o sorriso bobo no rosto, e claro, o chapéu na cabeça.
Enfim, roseiras transplantadas, missão cumprida. Lamento por Itallo ter adoecido justamente depois de ter chegado, o que me fez pensar que realmente poderia ter sido o frio que ocasionou. Preocupações de tio...
Passam das nove da noite, e aqui estou eu, com as mãos pretas -resultado da mistura das terras- o sorriso bobo no rosto, e um brilho de luar nos olhos. Isso resume a felicidade que sinto em deixar meu espaço ainda mais do meu jeito, com roseiras por toda parte. O complicado é só a doença de Itallo, Mas com a boa mãe que ele tem, logo, logo estará curado. Coitado do meu sobrinho.