TURBILHÃO

TURBILHÃO

Começo a digitar as letras e nem sei o conteúdo que vai fluir, se haverá algo coerente, se formarei frases ou se simplesmente deixarei jorrar da mente um amontoado de insignificâncias. Não importa, nada importa, o tempo vai consumir tudo mesmo, cada palavra será soprada pelo vento sem rumo, os termos se tornarão mero resto de cinzas. Os dedos teclam fortemente sobre as letrinhas pintadas no teclado, sinto fúria e melancolia neles, nada os impede de ir jogando as frases na tela, de revelar seus segredos recônditos, de pintar sem tinta, de jogar poeira no ventilador. Interessa-lhes apenas digitar a todo custo, imprimir suas digitais no computador sem nenhuma razão evidente, sair de si mesmos, volutear, explodir as emoções acumuladas no coração que os comanda.

Há no meu âmago a revolta da saudade inacabada, o clamor das lembranças de outrora, tão lindas e meigas, o brado de algo inenarrável que não logro diluir, não chego a dissipar, não consigo esvoaçar, torna-se-me difícil compreender. Lágrimas torrenciais não resolvem nem interrompem a correnteza do sangue alucinando em borbulhas o peito tamborilando, quiçá sorrisos faceiros e meigos me iludam e amenizem, almejo que suavizem o esvaziamento de minha alma, seu sonho de paz, seu desejo, ao menos, por resquícios, bastam momentos talvez, de felicidade. Mas o que seriam esses fragmentos dessa tão procurada felicidade senão algo singelo e sublime, nada além de um doce abraço dela, desses abraços demorados e sinceros, amplexos que parecem vir do céu? É isso! Bastaria isso para amainar tudo, para acalmar o vulcão em poderosa erupção dentro de mim.

Então forjo o contexto fugindo do turbilhão, do caos incontrolável do meu íntimo, cujo simples abraço carinhoso faria toda a diferença para deixar de existir. E minhas palavras não mais seriam levadas pela força da ventania, já não me veria na necessidade de digitar ao léu a angústia do desconexo, não mais me veria na estrada deserta sob um céu sem nuvens, sem chuvas frescas molhando o chão crestado, sem o farfalhar das folhas das grandes árvores onde pululam ninhos de amor dos pássaros amorosos, sem o carinho de um olhar feminino tomado de sedução. Haverá sentido para o texto, terei motivo para esboçar, ao menos, uma mensagem de conforto destinada a mim mesmo.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/11/2013
Código do texto: T4563686
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