O telegrama da dor
A dor faz poesia, tessitura de lágrimas que não carece de alegria para dizer. A dor é prosa, é ritmo, é a controvérsia da alegria. A dor tem pranto e tem planos de um futuro bom. A dor manda recado, manda carta, manda bilhete, manda papel em branco, a dor liga, desliga, prevalece a dor. A dor figura, arquiteta, planeja, consome, a dor dá gargalhadas depois e durante o que passou. A dor é dura, selvagem, nua e crua, é um EU despido de crueldade, de docilidade, desventura, pranto sem e com cor.
A dor inspira, engana, nos toma, nos levanta, insônia. A dor, meu caro, é todo o desaviso, é o não informado, ela cria, planta, colhe, lembra, se aninha, a dor é veludo, a gente sente a textura. Que dor é a dor, dor de amor, dor de ausência, saudade fraturada, dor que se anima e se interpela, dor do que se gosta e desgosta.
A dor é atriz, meretriz, protagonista do palco da vida. A dor é um sorriso apertado, é um coração debruçado, é nó apertado, peito frouxo, olhar fixado, a dor não é tão dor... A dor enferruja, envelhece, desarma, impressiona. A dor recupera, alivia, cresce, desmama. A valentia da dor tarda, mas não falha, por isto, o poeta só vive na dor. Que dor, sem dó do amor.