A Árvore no Meio do Caminho
 
            Chamou-me atenção a nota publicada em um jornal da esverdeada capital goianiense, na qual os moradores do Residencial Morada do Bosque apelam contra a presença de uma árvore na Rua MB-03 que, segundo os mesmos, encontra-se no meio do caminho.
            Resta ao poeta perguntar: no meio do caminho de quem?
            Afinal, o que importa a sombra que ela deita, serena, acalmando a ira doentia do asfalto aquecido? Não vou nem falar da umidade que sua magnífica aura derrama nas proximidades abençoando, com um breve beijo no espaço, as cabeças nada frígidas dos transeuntes encolerizados.
            O fato que grita é que a árvore está no meio do caminho. E que caminho é esse que faz com que os homens em seus passos incertos rumem unidos em direção à morte que de ninguém esquece?
            A árvore, impassível e ingênua, não sabe que ali é um caminho. Foi deixada lá, crescendo contra todas as probabilidades, desafiando o asfalto, o concreto e a sisudez das faces humanas frias e apressadas que correm em sua desarvorada luta por uma sobrevivência que, a cada dia, parece fazem menos sentido.
            E quem para querendo admirar a árvore?
            E quem tem tempo para namorar sob os seus encantos?
            E quem irá fazer uma música para lembrar da sua passagem?
            Não temos mais tempo para árvores, nem para as sombras, nem para a poesia. Os homens querem o fim da árvore que lhes atrapalha o caminhar frenético e louco rumo a lugar algum.
            Não seria mais justo, lógico e humano, ao invés de deitar a árvore a golpes de machado ou sob a nua e rápida lâmina de uma serra elétrica, cercá-la, protegê-la, cultivar um jardim em volta e, quem sabe, transformar toda a rua em uma alameda cheia de vida e de verde? Não. Não há mais tempo para o verde e a natureza é apenas um detalhe que nos atrapalha a vida.
            Haverá um ninho naquela árvore? Haverá insetos? Haverá um outro universo? Não, nada disso importa. O que importa é que se derrube a árvore, afinal, menos uma não fará falta, para que passem os carros, para que passem as pessoas, para que a vida passe e a morte nos chegue, assim como chegará para aquela árvore...