SEMANA TURBULENTA
É domingo, início da manhã. Logo após o meu desjejum com a minha família, caminho até a sala para ligar o meu computado e acessar a internet. Como de costume, sempre entro nas redes sociais para ficar sabendo das últimas notícias bem como para ficar sabendo o que meus amigos estão compartilhando.
Ao percorrer a página virtual vejo uma mensagem de minha sobrinha despedindo-se de seu primo. Era uma mensagem carregada de eufemismo. E isso me fez não entender de súbito o teor da mensagem (na realidade acho mesmo que estava me recusando a querer entendê-la).
Digitei, então, a seguinte expressão; “ confesso que não entendi o teor da mensagem!”. Pressionei a tecla ENTER. Chamei a minha esposa e mostrei-lhe a mensagem que eu acabara de ler. A minha esposa compartilhou da mesma surpresa e dúvida minhas.
Peguei o meu celular e liguei para minha irmã. Ao ser atendido perguntei como não quer nada: “oi, minha irmã! Está tudo bem por ai?!!”. A resposta vei do outro lado da linha triste e melancólica. A voz de minha irmã está pesada e lânguida. Ela respondeu o seguinte: “oi, meu irmão! Não, não está nada bem. O Leonardo faleceu hoje, pela madrugada. Foi um ataque fulminante do coração. Não houve tempo nem mesmo para socorrê-lo. Ele estava superfeliz, pois ficou sabendo que sua esposa estava grávida. Ele saiu para comemorar e de madrugada se sentiu mal e morreu”.
Essa resposta foi a confirmação. Confirmação que não gostaria de ter ouvido. Fiquei em choque por várias e vária horas. Conhecia o Leonardo desde quando éramos crianças. Morreu ainda ainda jovem.
É segunda-feira, finalzinho da tarde. Estou novamente em frente ao computador. Estou fazendo um trabalho acadêmico. Certo momento resolvo acessar a rede social. Após alguns segundos de acesso, uma amiga que estava online entrou no bate papo. E de maneira direta, já iniciou a conversa assim: “vc se lembra do Banana?”. Não sei se para você, amigo leitor, mas para mim quando alguém inicia um diálogo assim, eu já espero o pior. E mais uma vez eu não estava enganado.
O Banana, como era conhecido por nós, amigos de adolescência; agora, já adulto, era mais conhecido como Cabo Freitas. Ele era policial da PM-PA. Respondia a ela da seguinte forma: “claro que lembro! Falei com ele outro dia!” Ele foi assassinado dentro de uma van ontem à noite”, disse ela. Percebi o seu sofrimento mesmo estando tão longe dela. Percebi o seu sofrimento pela manheira com escreveu, sem se preocupar com as normas gramaticais ou ortográficas. O que mais importava naquele momento a ela era extravasar o sofrimento, pois ela, mais do que eu, era mais íntima com ele, era bem mais próxima, bem mais amiga.
A morte dele foi cruel e impiedosa. Nela pude ver o quão cruel e vil é o ser humano que não tem controle sobre os seu instintos animalescos. Nela pude ver o quão é, para alguns, mais importante a coisa do que o ser. Ele, o Banana, ao voltar para sua casa, fora surpreendido, dentro da van, por alguns assaltantes, os quais desconfiaram que ele era policial e o mataram com cinco ou seis tiros, de maneira covarde e implacável.
É quarta-feira, início da noite. Desta vez estou assistindo ao jornal. O telefone toca. A minha esposa corre trazendo-o para mim. Era a minha irmã. No primeiro instante não conseguimos nos entender. Começo a rir ao telefone. Escuto choro do outro lado. Meu coração dispara. Pergunto a ela: “o que foi que aconteceu dessa vez?!!!! “a esposa do Abelzinho acabou de falecer”, disse a minha irmã, desfazendo-se em choro. Abelzinho é meu sobrinho.
Cheguei a conclusão de que não sofro do coração, pois se assim não fora, eu provavelmente morreria naquela hora. Estou preocupado, pois a semana ainda não acabou. Espero não ter mais nenhuma notícia trágica.
A morte, diz a Bíblia, será o último inimigo a ser vencido. Carrego comigo essa promessa. Tenho a convicção de que, não muito distante, viveremos sem saber o que seja a morte.