A Greve dos Anjos
“Um amigo é alguém que lhe conhece por completo
e ainda assim gosta de você.”
Elbert Hubbard
e ainda assim gosta de você.”
Elbert Hubbard
Sábado de manhã, Deus se viu às voltas com uma situação inusitada: anjos em greve, reivindicando melhores condições de trabalho e, pra começar, o fim do livre arbítrio.
Não suportavam mais ter que zelar pela espécie humana, sem poder de voto ou veto de nossos atos. Como proteger um bando de doidos que salta de pára-quedas, dirige a mais de 250km/h, escala montanhas, mergulha, esquia? E é um tal de andar por ruas desertas à noite, se apaixonar pela pessoa errada, encher a cara, enfiar dedo em tomada, engolir grampos, fogo, espadas e chicletes...
Deus ouviu todos os argumentos atentamente.
Embora sólidos, Ele tinha contra-argumentos também muito concretos: livre arbítrio era direito adquirido, não dava para tirar assim. A lei não retroage para prejudicar nem nos assuntos do Todo Poderoso.
Impasse instalado, o corpo celestial havia determinado a continuidade apenas dos serviços essenciais, um pequeno percentual de anjos atuando em operação tartaruga. E as desgraças acontecendo: enchente, terremoto, tsunami, terrorismo...
Em mais uma rodada de negociações, o Pai já começava a perder a paciência, quando um querubim sugeriu:
- Senhor, e se houvesse alguém para nos ajudar com o trabalho?
A conversa tomou novo rumo. Todos gostaram da idéia, mas quem seriam os anjos auxiliares? Quem seria capaz de cuidar de nós, nos acompanhar em nossos melhores momentos, mas também estar ao nosso lado nos piores? Teriam que ser pessoas como nós, mas com o mágico poder de nos fazer rir ou nos permitir chorar quando necessário. Deveriam compreender a hora certa de nos incentivar a gastar ou a economizar, correr riscos ou evitá-los, amar ou proteger o coração. Precisariam esbanjar paciência para ouvir nossas velhas piadas e rir delas, nossas eternas lamúrias e nos consolar, repetindo, incansáveis e esperançosos, os mesmos conselhos de sempre e que sempre fazemos questão de ignorar.
Depois de uma longa discussão, com direito a muitos cafezinhos e até uns pães de queijo que alguém trouxe de Minas, finalmente chegaram a uma conclusão.
A greve se encerrou ali.
Foi assim que Deus criou os amigos.
Texto publicado no jornal Alô Brasília, edição de 08/11/2013, reeditado do texto homônimo, publicado em 29/07/2010.
Não suportavam mais ter que zelar pela espécie humana, sem poder de voto ou veto de nossos atos. Como proteger um bando de doidos que salta de pára-quedas, dirige a mais de 250km/h, escala montanhas, mergulha, esquia? E é um tal de andar por ruas desertas à noite, se apaixonar pela pessoa errada, encher a cara, enfiar dedo em tomada, engolir grampos, fogo, espadas e chicletes...
Deus ouviu todos os argumentos atentamente.
Embora sólidos, Ele tinha contra-argumentos também muito concretos: livre arbítrio era direito adquirido, não dava para tirar assim. A lei não retroage para prejudicar nem nos assuntos do Todo Poderoso.
Impasse instalado, o corpo celestial havia determinado a continuidade apenas dos serviços essenciais, um pequeno percentual de anjos atuando em operação tartaruga. E as desgraças acontecendo: enchente, terremoto, tsunami, terrorismo...
Em mais uma rodada de negociações, o Pai já começava a perder a paciência, quando um querubim sugeriu:
- Senhor, e se houvesse alguém para nos ajudar com o trabalho?
A conversa tomou novo rumo. Todos gostaram da idéia, mas quem seriam os anjos auxiliares? Quem seria capaz de cuidar de nós, nos acompanhar em nossos melhores momentos, mas também estar ao nosso lado nos piores? Teriam que ser pessoas como nós, mas com o mágico poder de nos fazer rir ou nos permitir chorar quando necessário. Deveriam compreender a hora certa de nos incentivar a gastar ou a economizar, correr riscos ou evitá-los, amar ou proteger o coração. Precisariam esbanjar paciência para ouvir nossas velhas piadas e rir delas, nossas eternas lamúrias e nos consolar, repetindo, incansáveis e esperançosos, os mesmos conselhos de sempre e que sempre fazemos questão de ignorar.
Depois de uma longa discussão, com direito a muitos cafezinhos e até uns pães de queijo que alguém trouxe de Minas, finalmente chegaram a uma conclusão.
A greve se encerrou ali.
Foi assim que Deus criou os amigos.
Texto publicado no jornal Alô Brasília, edição de 08/11/2013, reeditado do texto homônimo, publicado em 29/07/2010.