Quem sabe eu vá à Bahia
Como pediram-me para escrever uma matéria sobre o homem, passei o dia de ontem almoçando e jantando Dorival Caymmi. A triste verdade é que eu não sabia absolutamente nada sobre ele até então. Sequer tinha conhecimento de que foi graças a um verso dele que passei a ser considerado um mau sujeito, ruim da cabeça ou doente do pé. Meu maior contato até então com o compositor baiano havia sido com Marina, não a música, mas a minha amiga de Curitiba, cujo pai diz ter sido essa a primeira canção que ouviu no rádio logo após o seu nascimento.
Isso foi no tempo em que se tocava Dorival Caymmi no rádio – sempre me perguntei por que os nomes mais celebrados da nossa música popular não são mais populares o bastante para que toquem no rádio. Como haveria de conhecê-lo, portanto? E à pergunta feita no título de uma das suas músicas mais conhecidas, eu confesso o seguinte: nunca fui à Bahia. E mais, nunca estive em parte alguma do Nordeste, embora tenha uma irmã por afinidade em Natal e Campina Grande. Ainda não tive oportunidade, e acontece que sou um homem frio, de temperamento nublado.
Precisei então fazer um curso intensivo de Identidade Baiana Aplicada. Tenho para mim que na maioria das vezes o jornalista não entende muito do que está falando, ou melhor, não é a pessoa mais indicada para falar sobre o que está falando. Sobre o Rubem Braga ninguém até hoje me pediu uma matéria, coisa que eu faria com um pé nas costas. Mas, paciência, é preciso estudar, é preciso conhecer, sobretudo é preciso não escrever besteiras.
Já gostei quando li uma antiga reportagem em que Caymmi dizia que a música precisa ser universal e com uma letra compreendida por todos. Curioso que, pelo que entendi, as suas canções mais baianas foram feitas no Rio de Janeiro. Ah, meu caro Caymmi, como eu te entendo! Isto é, não sei nada sobre samba, não sei nada sobre a Bahia, mas sou, modestamente, Phd em saudades da minha terra. Quem sabe um dia, afinal, eu vá à Bahia.