A emoção d investir no real
Quando em visita à cidade de Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro sorvi da brisa do mar – Praia do Forte.
Por duas vezes, ouvi não haver no Brasil praia mais linda. A primeira vez, que ouvi esse comentário foi, através de um taxista, quando no trajeto ao Teatro Municipal, daquela linda cidade; a segunda e apaixonada declaração, através de D. Gilma. Ah! Dona Gilma... ou, simplesmente Gilma, conforme me intimou a chamá-la.
O sol quente, daquela manhã nos conduziu - eu e o meu esposo - à busca da sombra de um guarda-sol, no quiosque da D. Gilma que de bom grado se assentou, ao nosso lado iniciando uma longa e interessante conversa, enquanto bebíamos água de coco - a preço dos industrializados - percebendo que éramos turistas, indagou: – De onde vocês são?
Respondemos: – De Recife, somos pernambucanos! Com um sorriso, disse: – Morei lá! O meu esposo trabalhou por longo tempo na SANBRA. Morávamos na “Praia Piedade”, orla marítima, vizinha à Boa Viagem.
Surgiram lembranças, observações, sobre a nossa terra e comparações, entre Recife e Cabo Frio; algumas, felizes e outras... nem tanto!
Gilma, professora aposentada, poliglota, com uma família grande, mulher esforçada, que renunciou parte de sua vida, para cuidar de sua mãe doente, falecida há dois anos. A partir desse infortúnio começou a trabalhar no quiosque, na Praia do Forte e usufruir do aconchego familiar. O agradável quiosque pertence à sua família, faz-lhe bem e se tornou em agradável oportunidade de conhecer gente e conversar; é uma terapia eficaz.
Nos dias atuais, quase não existe aproximação entre às pessoas do mundo real; quase não há diálogos, tampouco o desejo de se fazer amizades. Os estranhos continuam sendo, e os conhecidos ou parentes ficam distanciados, pouco interagem, por preferirem os amigos virtuais. Durante as minhas viagens tenho observado à multidão nos aeroportos, rodoviárias, e outros locais públicos – observância é para poucos –, pessoas com os olhos fixos em seus celulares ou computadores digitam, de forma frenética, às minúsculas teclas dos seus aparelhos; sentam-se e levantam-se sem olhar do lado, alheias ao próximo; nos aviões e outros meios de transporte, idem! Interagem animadas com desconhecidos, e abrem os seus corações aos chamados “amigos virtuais.”
É impressionante a quantidade de pessoas viciadas no virtual. Primo, pela oportunidade de interação, com pessoas e com o mundo, quando viajo, ou saio do meu lar Observar o meu entorno, interagir, conhecer pessoas, ver às paisagens, conhecer o que se toca, é necessário... O mundo é lindo! Adquirimos lindas experiências, através das pessoas; verdadeiras lições de vida. Através da simples observância captamos, minúcias e situações ínfimas, peculiares ao ser humano, que tendem à nos acrescer...
Voltemos à Gilma! Comoveu-me o seu depoimento sobre a sua vida de educadora, ou melhor, de alfabetizadora de adultos. Experiências grandiosas, comoventes e reconfortantes. Ouvindo-a e sentindo a sua emoção, quanto aos fatos relevantes, daquela época vi nos seus olhos cansados, lágrimas contidas, diante das tais lembranças... Eu perderia tudo isso, se estivesse mergulhada no virtual – Toda falta de moderação conduz o homem à degeneração.
Gilma nos contou sobre um senhor que ansiava por aprender a ler e a escrever; da sua emoção em pensar que alcançaria o seu ideal. De quando inqueriu o seu ansioso e pretenso aluno: – Você quer? E, repetiu: – Você quer...?
Respondeu-lhe o pretenso aluno: – Ah! Professora... Nem sei o que fazer com a senhora, no dia que eu ler e escrever...
Em pouco tempo aprendeu a ler e escrever.
Gilma, emocionada suspirou e disse: – Jamais me senti tão alegre, tão gratificada!
– Por mais dinheiro que eu pudesse ter ganhado, nenhuma profissão teria me completado mais!
Àquele diálogo, tão edificante, chegou ao fim... Os compromissos literários me esperavam... Saí de Cabo Frio, mais rica! Afirmo, conscientemente, que "nenhum invento suplanta a criação maior de Deus – O homem"!
Vale a pena investir no real!.
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