A vida sob um olhar aos 40
Por décadas, que passaram rapidamente, perguntei-me como seria minha vida aos 40: rico? Famoso? Muitas mulheres? Muitos filhos? Aposentado? Viril? Presidente da república? Em cada fase da vida, uma expectativa diferente, própria das variações hormonais e financeiras da juventude. Foram muitas conquistas, frustações, emoções, sorrisos e choros até ver a marca dos 40 a menos de um passo dos meus olhos. Será que muita coisa mudou?
Sim, eu e o mundo mudamos, não sei se para melhor, mas é certo que mudamos. De cara, seria inimaginável essa reflexão na minha adolescência. Pensar no futuro com um olhar crítico em relação ao passado é um dos privilégios da maturidade. Contudo, acordo hoje com a mesma vontade de recomeçar que sentia outrora, a mesma vibração, mas com um foco bem diferente.
A preocupação com a saúde é uma novidade crescente e presente até nas conversas à mesa de bar. Os amigos que combinavam baladas e viagens maneiras, hoje vibram com as festinhas infantis e os planos atuais sempre passam pela Disney. Agora nos preocupamos em garantir o futuro das crianças e educá-las para um mundo melhor, porém bem mais competitivo e desafiador. Nossos sentimentos cada vez mais incluem a compaixão; nossos projetos, a necessidade de ajudar o próximo. Nunca falamos tanto em corrupção, falta de caráter, egoísmo, racismo... Parece até que todos nós estamos um pouco mais preocupados em ser e viver melhor na sociedade.
Mas a idade cronológica nunca nos envergonhou tanto como agora, rios de dinheiro são gastos com cosmética. É como se um coronel travasse uma luta atroz para apagar suas medalhas da farda e, finalmente, ficasse feliz em parecer sargento, sem ter deixado de fato de ser coronel. Lembro-me de que, quando criança, via no meu avô a pessoa mais linda que conhecia. Em que momento da vida eu fui convencido de que a pele lisa é a mais bonita? Amo minha esposa, assim como a amava há 15 anos e pretendo amá-la para sempre, não importando a nossa idade. A busca pela saúde física e mental passa pela aparência saldável e jovial, mas que isso não vire uma obsessão que nos tire o prazer de ver a passagem do tempo como uma conquista. Afinal, a opção a envelhecer não me parece lá muito atraente, eu não aconselho.
A vida não devia ser medida cronologicamente, num compasso numérico que efetivamente não quer dizer muita coisa, até porque é possível morrer idoso sem nunca ter realmente vivido. Essa bobagem da humanidade querer medir e contar tudo poderia ter alguns limites, incluindo a forma de se avaliar a longevidade. Deveríamos aprender as lições do Pai, nas quais uma vida medida em anos representa muito pouco: “Bem-aventurado o homem que acha a sabedoria, o homem que alcançou o entendimento” (provérbios 3:13) ou lembrar que “tudo nesse mundo tem seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Eclesiastes 3:1-8); portanto, temos de ter a serenidade de ver o tempo como aliado na interminável busca pela sabedoria.
Por que então não medirmos a vida por nossas obras, realizações, orações, lugares visitados, abraços, beijos, emoções, frustações, pedidos de desculpa, experiência? Como disse o Rei “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”. Assim mudaríamos o foco, do quanto mais pior, para quanto mais melhor! Mais equilíbrio, mais orgulho em demonstrar na pele que a vida nos deu a dádiva da longevidade, da maturidade. A oportunidade de presenciar o fruto de nossas realizações e de poder, caso necessário, mudar o rumo das coisas com maior sabedoria. Afinal, não é isso que buscamos?
A juventude é um momento mágico, inconformista, transformador, inquieto, no qual fazemos nossas escolhas e determinamos o caminho a ser seguido; na maturidade, temos a responsabilidade de seguir este caminho, assumindo as consequências e colhendo os frutos do que foi plantado, mas sempre com a determinação para ajustar o que for necessário.
Os sinais pelo tempo de serviço devem ser motivos de orgulho, pois esse é o nosso papel na Terra, o de servir. O tripé formado pelo amor, a tolerância e o perdão é a base para uma vida de serviço feliz, em prol da família e da humanidade. Esse olhar, essa maturidade, esse exercício tem um tempo para acontecer, um tempo que não pode ser medido em anos. Mas se for buscado por todos, iremos efetivamente caminhar para a paz interior e para um mundo melhor e mais feliz para os nossos filhos.
E a vida aos 40, como fica?
Não sei... 40 o quê?