Luana

Tiro da minha gaveta a caneta que vai sangrar. Dói, como dói a caneta. Minha pena de cronista, caneta coitada. Caneta miserável e louca. Caneta. É preciso compreender seu sofrimento. Encontre a palavra chave e serás salvo. A caneta, por algumas vezes, atua como aquele que vai te descarregar deste mundo, a outra dimensão. A caneta não te leva aos sonhos noturnos de uma noite na cama, é um equivoco! A caneta nunca te levará a isso. Isso é uma ilusão! A caneta não é uma ilusão, a caneta é real! A realidade é outra, leitor.

Minha caneta quer sangrar Stella, esta mulher diligente, e apoiadora de causas nobres. Um dia teve ela com Luana, moça determinada, moça que não parece moça, pois toda moça espera as doações de outrém. Esta não, resolveu entrar na profundidade do orgulho e da individualidade desprezível e nojenta. Mulher orgulhosa. Mulher que diz: "Coitado do homem que me ama". Infortúnio esse para ela que não sabe o que é o amor, e antes de tudo, nunca sentiu a dor do amor. A mesma dor que faz com que a caneta sangre com muita intensidade.

Inventa ela de fazer um balão, feita pelas suas próprias mãos. Que balão lindo, Luana! Que balão perfeito! Não consigo evitar em bater palmas para ti e parabenizar. É uma beleza única teu balão. Teu balão é meu ídolo, por ele eu rezo a noite, por ele temo noite e dia, pois teu balão é mais que divino, teu balão é intenso. Minha caneta sofre dores quando escreve Balão. Balão! Que sofrimento bom. Balão! Morre, caneta! Morre para não ver o final! O final é duro!

Três semanas passam e Luana convida Stella para ver o divino balão. Mal esperava ela que o balão estava justamente aguardando para seduzí-la. Stella vê o balão e se apaixona por ele, paixão sexual.

-Pena que é um balão.- Diz Stella com um olhar pecaminoso. Stella, quem é você? Não fique no céu Stella, não fique! Luana quer te chamar.

Stella é de Luana. Luana a dominou. Quem é Stella agora? Brevemente veremos.

A envenenada Luana quer mais do que esse balão pode voar, ela quer a Lua. A Lua é seu desejo. O balão não quer os seres humanos, o balão quer a Lua.

E lá vão Luana e Stella se despedindo de suas vidas medíocres. Medíocres são elas que querem o impossível! Ninguém nunca foi à Lua, ninguém atinge a Lua, pelo menos na minha caneta não.

Eu não quero que elas flutuem. Mas por que você inventa, caneta, de deixá-las flutuarem? Não seja cruel!

Luana, coitada, cega pela altura que agora enxerga, e quanto mais sobe, mais o balão se infla de orgulho e determinação. Stella olha para tudo abismada com a altura que só Deus tem a permissão de ver. Elas estão pecando contra a caneta, a minha caneta não quer que elas estejam ali. Pecadoras! Pena de vocês.

E quanto mais a Lua fica perto delas, mais Luana tira pesos do balão, e o balão sobe mais ainda, e quanto mais sobe, mais a Lua foge delas porque está distante.

-Não fuja de mim!- Diz Luana com o desejo de possuir a Lua nos olhos, aqueles olhos avermelhados de Lua, Lua adulterada de ódio, avareza, orgulho.

Eu não acredito que elas tiraram todos os pesos do balão. Luana e Stella, vocês não chegaram à Lua, a Lua ri de vocês! E agora, que farão vocês para descerem? O egoísmo de vocês levaram-nas à um caminho sem volta. O importante na vida não é ser quem querem ser, mas ser quem são. E vocês pecaram desde o momento que a caneta começou a sangrar (é inconveniente elas existirem).

Que restou de vocês? Vocês foram longe demais e isso não fará vocês voltarem.

Com os olhos arregalados de esperança, ambas veem um único pára-quedas.

- Adeus, Stella. Agora eu percebi que os meus piores medos estão à tona.

E Stella responde:

- Eu não vou descansar até que o mundo inteiro conheça o nome de Luana!

Breno Leal
Enviado por Breno Leal em 06/11/2013
Reeditado em 14/04/2014
Código do texto: T4559590
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