Faz de conta
Faz de conta que você é surdo, porque aí você se obriga a olhar nos olhos de cada um e prestar atenção no que eles têm a dizer. Faz de conta que você é cego, porque aí, mais do que nunca, você precisa dar ouvidos aos outros e aprender a confiar no próximo. Faz de conta que você é paraplégico, porque aí você percebe que tem coisas que não consegue fazer sozinho. Faz de conta que você tem um limite, porque aí você precisa descobrir um jeito de se superar. Faz de conta que você é negro nos Estados Unidos, branco na Nigéria, mulher na Arábia Saudita, cristão na China, muçulmano no Ocidente, judeu em toda parte, feio e gordo em qualquer lugar, porque aí você pode se colocar no lugar do outro e não se valorizar acima do que convém.
Faz de conta que quem você ama morreu, porque aí você tem a chance de dizer tudo o que gostaria de dizer caso tivesse morrido de verdade. Faz de conta que você está sozinho no mundo, porque aí pode pensar em todas aquelas coisas importantes que até hoje não arrumou tempo para pensar. Faz de conta que não existe televisão, computador e celular, porque aí você pode descobrir novos meios de se divertir e se relacionar. Faz de conta que não tem luz, porque aí você se lembra que um dia já foi possível viver sem ela. Faz de conta que o dinheiro não é tão importante assim, porque aí você pode se preocupar em fazer aquilo que gosta e tem talento. Faz de conta que, apesar de tudo, ainda é possível fazer alguma coisa, porque só assim você poderá realmente fazer.
Faz de conta que você está redondamente enganado, só pra ver como seria se você mudasse de opinião. Faz de conta que os outros sabem mais que você, porque é quando você pode aprender. Faz de conta que você está ouvindo tudo pela primeira vez, porque aí você pode pensar realmente naquilo que está sendo dito. Faz de conta que não há nada de errado com você, porque aí você não precisa se preocupar em agradar aos outros. Faz de conta que a gente não vai fazer de conta.