Vícios

Todos temos vícios. Eu tenho de fumar e acreditar. Tem gente que tem vício de ser mal-humorado, outros de tomar remédios, outros de beber, outros de contar mentiras, vícios, vícios... mas acho que o pior dos vícios, o mais dolorido, o que mais nos maltrata, é o vício de outra pessoa.

Quando viciamos em outra pessoa e temos, por qualquer motivo, que conviver com a síndrome da abstinência; seja ela de um e-mail, de um telefonema, um toque, ficamos expostos, desumanamente expostos.

Quantas vezes você já não abriu sua caixa postal mais de um trilhão de vezes esperando ver aquele nome que chegava todo dia? Quantas vezes não abriu o celular e procurou, desesperadamente, uma chamada perdida e se decepcionou ao ver que o número é desconhecido... quantas vezes sentiu uma mão no seu corpo, um beijo na sua boca e pensou que aquilo estava errado, que aquilo não podia estar acontecendo porque não era quem deveria estar ali?

É... há vícios e vícios e alguns nos enlouquecem.

Escrever também é um vício e é uma maneira de se defender, de se resguardar, de se resgatar. Mas nem sempre dá certo. Às vezes, escrever é como estar numa clínica de recuperação olhando os 'manos' na esquina e sentindo o frio, os espasmos, o frêmito, o dilacerar da vontade e não ter o que se busca. Há grades.

Sei que minhas impressões são sempre emotivas, não vão de encontro ao lúcido e coeso dos seres, mas sim, ao ilúcido e incorreto do meu ser. Mas assim é, assim sou. Tenho ânsias e medos. Tenho nocautes e febres. Tenho dores e vícios e o pior deles, esse, o vício por alguém.

Há aquele levantar na madrugada, a ida ao computador, quem sabe o provedor não liberou mensagens que estavam presas? Há aquela coisa de abrir o telefone mil e trezentas vezes até acabar a bateria de tanto que você procura o que não veio e o que não virá. O insano ao descobrir que há mensagem de voz na sua caixa postal e você corre pra ligar, erra os números e senhas, sua mão treme e... e não era quem você precisava... Há aquele desespero de procurar pessoas, de tentar com tanta gente, de ficar pensando: acho que agora vai dar... e a decepção de que não deu, de que não sentiu a mesma coisa, nem sentirá, porque o seu vício é específico e não adianta mudar de marca.

Vício de pessoa é meio que morte porque você sempre fica meio vivo mas sabe que só está respirando, dizendo bom dia, fazendo graça, mas é tudo trapaça (só pra não perder a mão da rima), que você só quer aquela pessoa e aquela pessoa não está e não te quer.

Vícios te fazem perder o orgulho, a auto-estima, o amor-próprio, mas vício por pessoas faz com que se perca bem mais. Você perde o referencial, faz coisas que vão de encontro à sua índole, se submete, aceita ser enganado de AB a Z e ainda arruma desculpas e procura justificar a falha do outro como se o erro fosse seu. Fica receptivo à toda e qualquer pancada e diz que não dói. Aceita ser enganado de novo porque precisa daquilo. Aceita ser segredo, mas sabe que aquilo é só engodo, mas aceita... aceita...

É, vício por pessoas nos leva ao buraco mais fundo: nos leva a falta de dignidade.