Controle

Controle

Não há nada completo e, sendo assim, abre-se espaço para outra coisa; mas essa coisa é, simplesmente, a repetição de outrora. Completar lacunas e preencher o nada é impossível. Há múltiplos acontecimentos, múltiplas sensações; tudo numa desordem organizada e complexa.

É preciso “desinventar” a vida, desestabilizar as estruturas, contaminar ideias; ao atingir esses objetivos o corpo compreenderá o papel no mundo. Macular a vida com fugas, divagações, menoscaba o propósito da existência. “Humanizar” o humano foi algo que contribuiu para a acomodação e a passividade, dessa maneira, o medo se estabeleceu e firmou-se a verdade.

O bem e o mal são úteis e necessários; a perfeição é desprezível; a felicidade plena é um tédio; a total angústia é uma lamúria. A vida precisa de ser vivida e sentida de todas as formas. Odiar, amar, sonhar, brigar; não há modelos e nem dogmas.

O céu é azul porque o sonho pintou. A morte é preta porque o medo falou. Quantos conselhos deveriam ser calados na boca dos sábios? Quantas vidas foram refreadas por palavras mal faladas e com o propósito de controlar e violentar as escolhas?

De tudo existe um pouco e do nada se produz algo.

O homem caminha, hoje, com os passos de ontem e quer chegar ao futuro com os mesmos sapatos. A violência imposta resultou em cansaço de vida e promessas esdrúxulas de sobrevida. O instante é condenado, mas a eternidade passou a ser a obrigação da existência. Tudo tem que ser eterno; amor, vida, momentos... caso, não seja, tudo é desprezado. O tempo se alongou para satisfazer a falta de vida dentro da própria vida.

Disseram que a estrada é por ali e não apontaram outros caminhos, como opção. Violentaram as escolhas e condenaram a vida. Expulsaram a dúvida e estabeleceram certezas; e tais certezas cegaram a existência e toda a sua plenitude.

O caminho foi determinado;

a verdade estabelecida;

a vida maculada.

Todos comeram e beberam; a farra conteve a carne e o agora.

De tudo restou um nada. Nada faz sentido se não se estabelecer o descontrole.

Mário Paternostro