Diário de Sonhos - #051: Quebra de Caixa
Uma das funções do meu trabalho no Metrô é vender bilhetes. É uma função que exige muita destreza na hora de fazer os cálculos e cuidado pra fazer a coisa certa. Nos primeiros dias fiquei meio apavorado, mas hoje... acho que estou ainda mais. Quando passamos troco a mais pro usuário, ou de alguma forma perdemos dinheiro, é chamado de "caixa a menor". Você vendeu três mil reais em bilhete, mas só tem dois mil novecentos e noventa e nove em dinheiro. Esse um real faltante quem paga sou eu.
Fiz meu período de prática com uma funcionária chamada Solange, uma senhora loira de cabelo curtinho, muito paciente e prestativa. Ontem ela me disse "olha, se depender de mim você já está liberado pra trabalhar sozinho". Este sonho foi com ela.
Eu sonhei...
Sonhei que estava novamente trabalhando na bilheteria sob a supervisão da Solange. Mas ao invés de ser uma bilheteria do Metrô, estávamos dentro de um ônibus, e o guichê eram as janelas do veículo. O ônibus andava e andava. Era de noite. Muitos passageiros iam e vinham freneticamente. A Solange vendia num guichê, e eu vendia no outro. Mas eu não tinha assumido o outro guichê em meu nome. Os dois estavam no nome dela, o que significava que se faltasse algum dinheiro, era ela quem pagava.
No guichê que eu estava, tomei todo o cuidado pra fazer o troco certo e não perder nenhum dinheiro. Finalmente o turno acabou. De repente uma moça grita de pavor. A janela do ônibus estava aberta e todo o meu dinheiro saía voando. Desci do ônibus e corri pra pegar o dinheiro, mas ele já havia sumido. Voltei pro ônibus chorando, disse pra Solange que ia pagar tudo pra ela. Solange estava brava, e disse que estava enganada, que eu não estava liberado pra vender sozinho, que eu devia voltar pra treinamento, tudo de novo, desde o início. Eu chorava convulsivamente, pedindo perdão pelo meu descuido, mas ela era inflexível. Saí do ônibus e andei pelo vazio das ruas escuras.
Cinco de novembro de dois mil e treze.