Menina de Brasília em Curitiba

Eu já estava prestes a entrar na sala de embarque quando vieram me trazer uma carta. Não para mim, mas para uma sofrida menina que havia se mudado para Curitiba. Eu a conhecia vagamente, e o que tínhamos em comum era o que nos separava: eu havia me mudado de Curitiba para Brasília algumas semanas antes de ela fazer o contrário. Na capital do país ela havia deixado uma grande amiga, que também era minha. E a ela essa menina havia pedido uma carta, alguma coisa que a fizesse sentir menos sozinha e desajustada em meio ao frio paranaense, que não se limita ao clima. Como eu estava justamente viajando para lá, concordei em servir de pombo-correio.

Sabia ligeiramente que aquela menina havia passado por algum episódio difícil em Brasília. E como também chegavam até mim informações sobre a sua dificuldade de adaptação na nova cidade, eu logo havia tomado para mim o seu partido – eu tomo o partido de todas as meninas que sofrem. Havia até mesmo mandado alguns e-mails tentando passar um pouco da minha experiência de 300 anos como curitibano.

Embora sofrida, aquela não era exatamente uma menina triste. Pelo menos não foi assim que a encontrei naquela tarde de sol, um sol tão forte que me queimou a pele que não queima nem sob o sol de Brasília. Era, na verdade, a menina mais simpática com quem eu conversava em um longo tempo. Não sabia quando ia poder voltar a Brasília, e isso a entristecia um pouco. Mas tinha um bom aspecto e me fazia bem conversar com ela. Entreguei a carta, que deve ter sido lida bem depois, com calma, sozinha, quando podia se emocionar sem o risco de ser vista.

Já longe dali, eu ainda guardava a boa impressão que sua simpatia havia me causado. Admito: chegou a passar pela minha cabeça a hipótese de ter aquela simpatia toda só pra mim. Mas isso seria uma injustiça com Curitiba, e principalmente com Brasília, que a merece mais do que eu – tanto que agora, depois de tanta luta, finalmente a tem de volta para si.

milkau
Enviado por milkau em 05/11/2013
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