O Controle e o Desejo
O controle nas pessoas é importante porque pode ser elemento moderador e incentivador da prudência, projeta as ideias, as organizam e as transformam em ações. Até aí tudo bem posto que é a parte saudável da atitude. Não obstante, este lado positivo, temos que lidar paralelamente com o lado nefasto e ostensivo desta emoção. A necessidade de controlar tudo, e todos.
A organização exagerada, a meticulosidade exaustiva e recorrente de mínimas coisas que deveriam ser para relaxamento e lazer, são colocadas na mesma perspectiva de controle. Tudo e todos devidamente cronometrados para o exercício de tarefas que supostamente seriam para realçar a ordem e a organização da pessoa encarregada de não dá sequer um minuto de sossego aos outros. Pois reclama sem cessar atenção e a perfeição de todos.
Horários são importantes mas não precisam ser parte de uma atitude de raiva e desespero para com filhos, amigos, maridos, companheiros de trabalho e demais pessoas. É justo assim, que o controle exacerbado se transforma em recalque, que normalmente aparece para todos, mas este estágio de recalque é mesmo doentio e incômodo a convivência.
Na psicanálise recalque é definido, à grosso modo, como ‘processo inconsciente pelo qual uma ideia, sentimento e/ou desejo, tidos como repugnantes por um indivíduo, são por ele excluídos de admissão consciente, mas persistem na vida psíquica, causando distúrbios mais ou menos graves.’
O recalque nas pessoas com mania de controlesão se mostra na forma possessiva dos relacionamentos, mal humor súbito e recorrente. Isto as coloca constantemente num circuito neurótico. Quando mergulhadas neste estado de pressão mental vivem miseravelmente, tristemente sem conseguir uma centelha de felicidade e também não deixam espaço para a felicidade alheia. São verdeiros devoradores de sonhos e alegrias partilhadas.
Sua infelicidade é o seu prazer, o circuito neurótico transforma a necessidade de ser feliz através de carícias, afetos positivos, em necessidade de receber carícias negativas, ou seja o recalque exige a exacerbação do perfeito controle em si e nos outros, e o seu universo passível de controle é mesmo pequeno.
Pessoas neste estado mental, não se dão conta que muitas coisas e pessoas ficam de fora, simplesmente são excluídas para que possam manter seu poder de controle. Isto considerando o espaço de atuação da neurótica como familiar. Se transportarmos algo desta natureza para alguém que exerce um posto de chefia e coordenação de tarefas administrativas, estes desajustes se multiplicam em escala exponencial.
Numa personalidade como a de Adolf Hitler, por exemplo, acreditar e praticar a abrangência megalômana da sua necessidade de controle causou o grande desastre do holocausto resultando em incontáveis perdas de preciosas vidas humanas, destruição em massa, genocídios e o caos em nome do controle, seja lá qual seja o motivo estampado no discurso persuasor.
As pessoas envolvidas na geografia do controle, participam da ‘doença’ do recalcado por laços afetivos que não podem perder, não conseguem ficar sem. Outros por necessidade de ascensão profissional preferem aderir a mentalidade controladora, a resistir arriscando cargos, salários, amizades.
Talvez tenha sido este o princípio do desamor no mundo, quando o primeiro ser humano, olhou para o outro e percebeu que tinha este poder de controle sobre os demais. E se fortaleceu porque alcançou respostas positivas e todos talvez tenham se sentido amparados pela necessidade e aceitação de um líder autocrático, aquele que supostamente age em função da maioria, mas não se esquece antes de manipular comportamentos e opiniões.
Há sempre uma relação de troca reconfortante que dá ao controlado uma sensação de estar em dívida com o controlador, a quem agradece e se curva e ensina seus descendentes e amizades próximas a também se entregarem sem a menor resistência e fazer por imitação o que todos fazem, ou seja se deixarem dominar. Param de pensar por si, e começam a ver pelos olhos do controlador. E ai de quem não se encaixar no perfil, este será denunciado, perseguido e punido conforme ditarem as relações de opressão.
Tudo gira em torno da capacidade de sedução que o opressor dispensa ao oprimido. Isto funciona em toda a extensão da história e em todas as identidades e diversidades culturais. Marido X Mulher; Crianças Maiores X Crianças Menores; MãeXFilho; Pai X Filho; Chefe X Subalterno; e subindo até perder de vista de forma assustadora e incomensurável. Esta é a origem dos males, esta é a origem do desamor e do não reconhecimento do ser humano como um ser igual, frágil, carente e extremamente dócil, capaz das mais belas e meigas ações.
Este novo ser que emerge do controlador esqueceu a sua humanidade, a sua beleza mais sagrada, aquilo que tornara possível a sua conexão direta com o supremo e se aceita hoje mau, para esperar amanhã o dia de ser bom, mas este dia não chegará jamais, se não acordar para a sua necessidade de mudança interior.
O caminho entre a repressão e controle é animador e assustador demais. E este novo ser fica cruel, insensível esquece de olhar profundamente para perceber os gritos da alma, esquece de se abandonar a um toque de carinho, de confidenciar e trocar. Enfim, polir o elo mais frágil da sua sensibilidade, justo aquele que sustenta sua potencial capacidade afetiva, amorosa.
A sua cena poética, criada no seu bem estar estético se vai, e fica em seu lugar a cena, trágica e dramática. A comédia e a música e todas as artes ficam com uma minoria que luta para não ser reconhecida como piegas, vulgar. O original é não cuidar do amor que sublima todas as coisas más, transformando-as em coisas essenciais.
E assim não se cogita mais sentir com normalidade o sensível e terno. A dureza das formas é que atende a dualidade do controle da vida e pelas vidas. Desta forma é que se perde a potência da muda, as características (humanas) que estariam na árvore, um dia. E o que resulta disso tudo é que o milagre, a força que o homem não tem, deixa de ser pretendido. A descrença mora em si mesmo e o ser humano, percebe que ‘a única forma de vencer é não jogando’ como naquele velho lance de Xadrez. Mas o milagre que está em todos, é a capacidade de amar. Esta força é como o ar que se respira, e a terra que nutre tal como a água e a luz, e a felicidade não quer apenas sobreviver, quer ser sob qualquer circunstância. E a única forma de ascender a este nível é resistir e desejar buscando sempre o que não está lá... Prosa de Ibernise. Barcelos 04NOV2013.
O controle nas pessoas é importante porque pode ser elemento moderador e incentivador da prudência, projeta as ideias, as organizam e as transformam em ações. Até aí tudo bem posto que é a parte saudável da atitude. Não obstante, este lado positivo, temos que lidar paralelamente com o lado nefasto e ostensivo desta emoção. A necessidade de controlar tudo, e todos.
A organização exagerada, a meticulosidade exaustiva e recorrente de mínimas coisas que deveriam ser para relaxamento e lazer, são colocadas na mesma perspectiva de controle. Tudo e todos devidamente cronometrados para o exercício de tarefas que supostamente seriam para realçar a ordem e a organização da pessoa encarregada de não dá sequer um minuto de sossego aos outros. Pois reclama sem cessar atenção e a perfeição de todos.
Horários são importantes mas não precisam ser parte de uma atitude de raiva e desespero para com filhos, amigos, maridos, companheiros de trabalho e demais pessoas. É justo assim, que o controle exacerbado se transforma em recalque, que normalmente aparece para todos, mas este estágio de recalque é mesmo doentio e incômodo a convivência.
Na psicanálise recalque é definido, à grosso modo, como ‘processo inconsciente pelo qual uma ideia, sentimento e/ou desejo, tidos como repugnantes por um indivíduo, são por ele excluídos de admissão consciente, mas persistem na vida psíquica, causando distúrbios mais ou menos graves.’
O recalque nas pessoas com mania de controlesão se mostra na forma possessiva dos relacionamentos, mal humor súbito e recorrente. Isto as coloca constantemente num circuito neurótico. Quando mergulhadas neste estado de pressão mental vivem miseravelmente, tristemente sem conseguir uma centelha de felicidade e também não deixam espaço para a felicidade alheia. São verdeiros devoradores de sonhos e alegrias partilhadas.
Sua infelicidade é o seu prazer, o circuito neurótico transforma a necessidade de ser feliz através de carícias, afetos positivos, em necessidade de receber carícias negativas, ou seja o recalque exige a exacerbação do perfeito controle em si e nos outros, e o seu universo passível de controle é mesmo pequeno.
Pessoas neste estado mental, não se dão conta que muitas coisas e pessoas ficam de fora, simplesmente são excluídas para que possam manter seu poder de controle. Isto considerando o espaço de atuação da neurótica como familiar. Se transportarmos algo desta natureza para alguém que exerce um posto de chefia e coordenação de tarefas administrativas, estes desajustes se multiplicam em escala exponencial.
Numa personalidade como a de Adolf Hitler, por exemplo, acreditar e praticar a abrangência megalômana da sua necessidade de controle causou o grande desastre do holocausto resultando em incontáveis perdas de preciosas vidas humanas, destruição em massa, genocídios e o caos em nome do controle, seja lá qual seja o motivo estampado no discurso persuasor.
As pessoas envolvidas na geografia do controle, participam da ‘doença’ do recalcado por laços afetivos que não podem perder, não conseguem ficar sem. Outros por necessidade de ascensão profissional preferem aderir a mentalidade controladora, a resistir arriscando cargos, salários, amizades.
Talvez tenha sido este o princípio do desamor no mundo, quando o primeiro ser humano, olhou para o outro e percebeu que tinha este poder de controle sobre os demais. E se fortaleceu porque alcançou respostas positivas e todos talvez tenham se sentido amparados pela necessidade e aceitação de um líder autocrático, aquele que supostamente age em função da maioria, mas não se esquece antes de manipular comportamentos e opiniões.
Há sempre uma relação de troca reconfortante que dá ao controlado uma sensação de estar em dívida com o controlador, a quem agradece e se curva e ensina seus descendentes e amizades próximas a também se entregarem sem a menor resistência e fazer por imitação o que todos fazem, ou seja se deixarem dominar. Param de pensar por si, e começam a ver pelos olhos do controlador. E ai de quem não se encaixar no perfil, este será denunciado, perseguido e punido conforme ditarem as relações de opressão.
Tudo gira em torno da capacidade de sedução que o opressor dispensa ao oprimido. Isto funciona em toda a extensão da história e em todas as identidades e diversidades culturais. Marido X Mulher; Crianças Maiores X Crianças Menores; MãeXFilho; Pai X Filho; Chefe X Subalterno; e subindo até perder de vista de forma assustadora e incomensurável. Esta é a origem dos males, esta é a origem do desamor e do não reconhecimento do ser humano como um ser igual, frágil, carente e extremamente dócil, capaz das mais belas e meigas ações.
Este novo ser que emerge do controlador esqueceu a sua humanidade, a sua beleza mais sagrada, aquilo que tornara possível a sua conexão direta com o supremo e se aceita hoje mau, para esperar amanhã o dia de ser bom, mas este dia não chegará jamais, se não acordar para a sua necessidade de mudança interior.
O caminho entre a repressão e controle é animador e assustador demais. E este novo ser fica cruel, insensível esquece de olhar profundamente para perceber os gritos da alma, esquece de se abandonar a um toque de carinho, de confidenciar e trocar. Enfim, polir o elo mais frágil da sua sensibilidade, justo aquele que sustenta sua potencial capacidade afetiva, amorosa.
A sua cena poética, criada no seu bem estar estético se vai, e fica em seu lugar a cena, trágica e dramática. A comédia e a música e todas as artes ficam com uma minoria que luta para não ser reconhecida como piegas, vulgar. O original é não cuidar do amor que sublima todas as coisas más, transformando-as em coisas essenciais.
E assim não se cogita mais sentir com normalidade o sensível e terno. A dureza das formas é que atende a dualidade do controle da vida e pelas vidas. Desta forma é que se perde a potência da muda, as características (humanas) que estariam na árvore, um dia. E o que resulta disso tudo é que o milagre, a força que o homem não tem, deixa de ser pretendido. A descrença mora em si mesmo e o ser humano, percebe que ‘a única forma de vencer é não jogando’ como naquele velho lance de Xadrez. Mas o milagre que está em todos, é a capacidade de amar. Esta força é como o ar que se respira, e a terra que nutre tal como a água e a luz, e a felicidade não quer apenas sobreviver, quer ser sob qualquer circunstância. E a única forma de ascender a este nível é resistir e desejar buscando sempre o que não está lá... Prosa de Ibernise. Barcelos 04NOV2013.