A INTOCÁVEL DO ÔNIBUS LOTADO
As pessoas que se consideram intocáveis, cujo termo latino é "no li me tangere", deveriam, com perdão do trocadilho, se tocar (conscientizar) e só deixarem a sua residência usando carro próprio ou táxi. Pois quem se submete a pegar ônibus, trem, metrô lotados, diariamente, quer queira ou não, estará sempre ciente do apuro, aperto, empurrões no começo, durante e final da viagem. Infelizmente, para muitas pessoas, todo este tipo de sufoco passa até ser algo normal, mas que ninguém gosta, evidentemente. A não ser os sádicos, os anormais os mal intencionados que se aproveitam da tal situação para abusar das pessoas incautas e inocentes. E as vítimas são geralmente as mulheres. E por falar na ala feminina, sem querer ser machista ou preconceituoso, o fato que passo a narrar é peculiar às mulheres, salvo raríssimas exceções.
O pensamento que diz "o justo paga pelo pecador" se enquadra muito bem neste caso. No dia em que tal fato aconteceu o ônibus estava lotado. Era começo da hora de pico. Aquele momento aonde "o filho chora e a mãe não vê" ou então salve-se quem puder. No interior do coletivo, pessoas de todas as idades estavam espremidas, sufocadas. Quem se habilitasse a levantar um pé corria o risco de não encontrar mais o lugar para apoiá-lo. Entre os passageiros, um homem de mais ou menos 50 anos foi insultado, xingado por uma passageira que não gostou quando ele passou e à sua revelia a tocou, mesmo pedindo licença. O olhar crítico e o murmúrio de um palavrão foram suficientes para iniciar uma pequena celeuma.
Ao perceber que aquela mulher olhou feio para ele e murmurou uma palavra de baixo calão, simplesmente ele perguntou:
-Está falando comigo?
-Lógico! Quem foi que passou me apertando agora com segundas intenções?
-Eu realmente passei, mas não tive nenhuma intenção em ofender a senhora! Não tive como evitar.
- Isso é papo furado. Não tem vergonha? Com esta idade?
-Olha senhora, vamos...
-Senhora é a vovozinha. Senhorita.
-Bem, seja o que for, antes que eu me esqueça e para colocar um ponto final nesta história, vou lhe dar uma sugestão: Quando descer deste ônibus lotado e chegar em sua casa, faça ou manda fazer uma redoma, de preferência com objeto opaco e fique isolada de tudo e de todos, respirando um ar só seu e numa situação totalmente intocável. E fique sabendo mais: "Quem com tudo se ofende e ao mesmo tempo ofende aos outros não serve para viver em sociedade".