É MELHOR SER INCÓGNITO OU CONHECIDO?

Muitas vezes ouvi gente dizer que prefere ser incógnito numa grande cidade a morar num lugar menor. Nessas horas sempre me lembro de uma crônica de Fernando Sabino, (na época) morador do Rio de Janeiro, em que ele se perguntava por que nos enchemos de alegria quando do alto da janela de um escritório lá no centro, vemos passar pela calçada algum amigo, embora ele nem desconfie de que esteja sendo observado. Ou quando andamos pela rua e percebemos alguém conhecido, mesmo que seja um vizinho, sentado num restaurante. Fazemos questão de chamar-lhe a atenção, até com certas macaquices, dando-lhe sorrisos e adeuzinhos... Talvez seja pelo conforto de não se sentir perdido no meio da multidão...

Passei toda a vida sem me preocupar com isto, pois sempre fui conhecida de muita gente: família, parentes, amigos, vizinhos, colegas de escola e de trabalho, alunos, mães de alunos... Além de outras pessoas menos próximas, como a atendente da padaria, o tintureiro, o frentista, o farmacêutico, o zelador do prédio, empregadas... Mesmo vivendo numa grande metrópole, quase todo mundo tem sua roda de conhecidos. Somos incógnitos no meio da multidão, andando por calçadas cheias de gente no centro da cidade, viajando nos ônibus ou no metrô. Em nosso trabalho, no bairro, ou mais perto de casa, a chance de ver conhecidos aumenta. Mas acontece também nas grandes cidades de cruzarmos com amigos ou gente conhecida nos lugares mais inesperados: no cinema, no teatro, no shopping, em algum bar ou restaurante, o que sempre nos alegra.

Quem é que, parado no sinal, não buzina ao ver um conhecido atravessar a faixa de pedestre?

Melhor ainda quando estamos bem longe de casa, ou até no estrangeiro, e encontramos conhecidos. Fazemos a maior festa, felizes com a coincidência.

Agora que estou com idade mais avançada, se alguém disser que prefere ser incógnito na metrópole, eu retruco. Prefiro ser conhecida numa cidade menor. A toda hora encontro amigos na rua, no banco, nas lojas e com eles posso bater bons papos. E ainda penso em situações de emergência: se eu cair na rua ou tiver algum problema, tenho certeza de que serei socorrida com presteza e maior atenção. Sei que na metrópole também me socorrerão, porém suponho que de forma menos carinhosa.