Conversa comigo mesmo

Me percebi com a necessidade de sentar-me em um banco de praça para conversar com alguém. Praça para mim sempre é bom, pois eu entendo como sendo o ambiente mais democrático de uma cidade: acesso gratuito; qualquer pessoa pode frequentar independente da classe social (um dos poucos lugares cujo preconceito social não é colocado em "cartazes implícitos"); não precisa ser um intelectual para desfrutar da brisa de manhã ou do começo da noite; é um local onde vários grupos sociais diferentes estão presentes assim pessoas dificilmente ficam "deslocadas" principalmente quando no centro de um praça tem uma igreja e, por último, é um local onde a simples observação das pessoas com os seus diferentes costumes proporciona uma reflexão. Procurei um banco disponível e encontrei. Em toda a praça os bancos estavam lotados apenas no meu banco havia um único corpo. Então recorri à um artifício que nunca me traiu: conversar comigo mesmo. Procurei o eu físico, o eu meteorologista, o eu administrador e o eu pesquisador cuja principal função profissional é procurar respostas para certos "por quês?". Uma brisa passou por mim e a navegação dentro dos meus quatro eu´s iniciou com o físico, que muitas vezes faz um risco no chão e pula no meio, fiz a seguinte pergunta: - Se as pessoas resolvem problemas todos os dias, é lícito dizer que a vida é um problema? O físico respondeu: - Todos os problemas têm solução, se você ainda não a encontrou é porque você não tentou todas alternativas. Se você me pergunta se a vida é um problema, independente do que eu eu te diga, você vai continuar achando que a vida é um problema, desta maneira prefiro te esclarecer sobre a existência do prazer e da satisfação plena em encontrar a solução para problemas. Logo após digerir o resultado da reflexão, me dirigi ao eu meteorologista e o indaguei acerca da possibilidade da vida ser previsível. Este meu eu treinado para elaborar prognósticos respondeu: - Se você tem uma ideologia, e a partir desta, você sofre uma série de eventos ruins você culpa a ideologia que você segue ou à suas escolhas? Muito provavelmente à ideologia e então você vai mudar de ideologia esta pode ser religiosa ou laica depende. Então os eventos são independentes e excludentes. Portanto relaxe e não fique feliz ou sofra por antecipação se o sabor da vida vem do suspense ou você come uma lagosta num restaurante bom com uma excelente companhia sem antes sentir o cheiro da comida? Reflita rapaz. Ao me deparar com a escolha conflitante de escolher seguir meus desejos alicerçados no sonho ou no que é real, perguntei ao eu administrador: Eu vou "de cabeça" na emoção ou eu construo um tijolo de cada vez? O administrador respondeu: - Você se conhece? Não posso investir em você se você não sabe até onde pode chegar, não vendo um produto ou serviço que não conheço. Se resolva, em outras palavras, resolva seus problemas internos para depois resolver os externos. Um administrador não abre uma loja para receber clientes se ela não estiver limpa e com todo o instrumental necessário para receber bem os clientes. Deixei a última pergunta intencionalmente para o eu pesquisador. Perguntei: Você realmente vive de encontra respostas? O que tem de bom nisso? O eu pesquisador respondeu: - Duvido você direcionar a segunda pergunta com a mesma intensidade tanto para um lixeiro quanto para o presidente da república. A propósito, estou tão feliz exercendo minha profissão que não preciso justificar pra você o porque da minha escolha; se eu demonstrar pra você indiretamente eu estou demonstrando primeiro pra mim. A brisa na praça terminou e, à medida que o vento cessou, minha reflexão terminou.

Ricardo Monjam
Enviado por Ricardo Monjam em 02/11/2013
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