Pequenas histórias 008
Sexta feira mais.
Sexta feira mais uma vez. Outra semana passada inteiramente com papéis sujos de letras e números. Outra semana de vozes jogadas a esmo no ar sufocado por pensamentos triviais e insolúveis. E tantos ou tantas outras vezes que se discorrem ao comando das artimanhas do coração ou, das artimanhas dos interesses. Coisas, fatos, acontecimentos vão se incorporando no script onde cada um representa o seu papel, onde cada um aprende sua fala e no determinado momento, por isso ou por aquilo, áspero ou manso, suave ou calmo, expressa num monologo ou num diálogo quase sempre surreal. Assim é a vida, assim caminha a humanidade.
Uns são jogados no rio morrendo em coma. Outros grafitam muros e paredes não sendo compreendidos. Outros tocam noites inteiras suas preferências musicais. Outros controlam e abusam do poder político ou policial num mando e desmando estarrecedor. Outros e outros e outros fazem e desfazem a bel prazer pouco importando que outros apenas querem viver numa decência encapelada pela felicidade que só descobrem quando já é tarde.
Há belezas infinitas que os olhos gananciosos do consumismo embotam, assim como há belezas que o coração de pedra ignora a estética. Em tudo em todos lugares existem belezas, sejam elas quais forem. Não só me refiro às belezas criadas por artistas, arquitetos, poetas, escritores, escultores, não, mas me refiro às belezas que cada um cria em seu mundo particular que, com sua parcela mínima sem saber que está criando uma beleza transcendental que é simplesmente: viver.
Essa beleza ninguém poderá tirar, nem macular ou matar. Beleza que deveria ser cada vez mais empenhada aparando as arestas até a perfeição absoluta de o próprio viver. Infelizmente é uma beleza desprezada, cultuada em academias supérfluas hedonistas e narcisistas apenas com interessa na caça em bares, avenidas, boates, saunas e outros antros de prazeres sexuais. Há também, infelizmente a beleza dos templos religiosos que deveriam servir para acalmar, para se encontrar a si próprio e com o divino que há nele e, não um antro de negociatas girando tudo em favor do dinheiro dos infiéis enganados. E a beleza que da mídia, principalmente a televisiva, disfarçada em cultura? Talvez essa seja a mais aterradora de todas, pois seu alcance é grande, abrangendo de norte a sul, de oeste a sudeste, até os confins da mata humana controlando mentes desavisadas e fracas.
Belezas, tantas infindáveis que só os olhos capacitados poderão enxergar, poderão refinar estéticas vanguardista, modernista ou futurista. Beleza dos gestos, do olhar, do corpo, do riso, da fala, do querer não querendo, do ser não existindo, do amor disfarçado em desamor, do grito, do semáforo, dos parques, enfim beleza em tudo e no nada. Da beleza de você que aqui não está da distância separando vidas e, ao mesmo tempo, encontrando vidas.
Assim, vamos de semana a semana cultuando, alguns, a sexta-feira, outros poucos se lixando que dia seja, mas sem saber dentro dessa caixa chamada beleza procriando belezas.
pastorelli