Carta de Adeus ao Amor

Pensei fosse você uma dádiva. Um sentimento nobre que nos fizesse compreender o sentido de estar vivo, de existir. Pensei ter sido você, o Amor, a grande invenção humana, que permitiu a convivência pacífica e o altruísmo de nossas ações. Pensei fosse você o remédio de nosso sofrimento, da grande tragédia humana que é ter conhecimento da própria morte. Pensei em você como uma fonte inesgotável de felicidade, que apazigua o coração e a alma, fazendo-nos sentir perto um poder maior. Pensei que nossa grande lição em viver seria aprender a amar cada vez mais, superando nossas diferenças, nossos preconceitos e nossa maldade. Foi assim que pensei... Até que amei demais.

Amei tanto que não mais podia parar. Amei tanto que a vida não me bastou. Amei de tal forma que você me exigiu a eternidade para amar. Daí você, o Amor, para mim se transformou e me transformou. Percebi que você nasce como nossa grande fonte de sofrimento e de infelicidade. Por sua causa passamos anos e até uma vida inteira sob efeito de uma ilusão, vivendo em ópio, felizes e inebriados com uma alegria e bondade com data certa para terminar e transmutar a felicidade em sofrimento. Sempre haverá o dia do fim, em que tudo se transformará em dor. Aprendi que você, o Amor, nos engana fazendo pensar que a morte não existe, que a solidão não nos acompanha. Amei tanto que não aceitei mais morrer. Você, o Amor, me provocou vício e dependência à vida. Veio dizer-me que sua sina é provocar uma chaga crescente, a qual se cava sem sentir, em virtude do nosso ser extasiado, em êxtase passageiro que, ao nos abandonar, causa-nos dor em um único golpe. Quanto mais se amar mais se sofrerá, um dia. Foi o que concluí... Até tentar viver sem amor.

Ao viver sem você, fiquei sozinho, assim como na verdade todos são. Senti-me em estado natural, instintivo, impiedoso, rancoroso e com olhar gélido como o ártico. Faltaram-me cores, fiquei ausente de emoções, faltou-me sentir vivo. Então não consegui mais pensar. Não consegui mais concluir. Não consegui mais sentir. Não consegui mais viver, nem morrer... Apenas vaguei, perdido.

Alex Stanescu
Enviado por Alex Stanescu em 19/04/2007
Reeditado em 19/04/2007
Código do texto: T455239