Quando tocam na gente (Hoje tô tri a fim de escrever uma crônica!)

Boa tarde meus caros 23 fiéis leitores e demais 35 de quando em vez, mas sempre muito bem recebidos. Hoje eu tô tri a fim de escrever uma crônica pra vocês. Eu passei uns dias aí meio xarope, vocês viram, mas, se passei, passou. Tanto que eis-me aqui, exatamente às 17h19min, a nossa Bat-hora!

QUANDO TOCAM NA GENTE

Minha professora de francês falou que os franceses são meio reticentes nesse negócio das pessoas se tocarem. Disse que eles são uma sociedade formal no tratamento cotidiano. Nas palavras, nas expressões de tratamento, se usa monsieur (senhor), madame (senhora), mademoiselle (senhorita) ou vous (vós), nada de informalidades no cotidiano, tipo to (tu), toi. Logo, imagine então esse mania de nós, brasileiros, de já ir chamando uma pessoa no cotidiano de tu, você, de ir tocando. Soaríamos muito inconvenientes e grosseiros. Já eles nos soariam esnobes.

Contudo, vejo algo de pertinente no que é comportamento deles segundo minha professora. Talvez eles sejam seletivos para esse lance de toques a fim de reservá-los para uma intimidade verdadeira. Nós termos essa "intimidade não íntima" no cotidiano, essa informalidade. Na verdadeira intimidade, somos do mesmo jeito, só que daí é o significado pessoal que conta, independente da forma, das palavras e do gestual. Pros franceses não, a forma íntima deve ser coerente com o conteúdo da verdadeira intimidade.

Somos essencialmente informais e eu , particularmente, gosto disso. Todavia, no emaranhado de toques e gestos cotidianos, nos marcam aqueles que passam para nós um significado especial. Das pessoas que tocam na gente, umas nos encontram mais receptivos e, por outro lado,

nos transmitem algo mais.

Estou a falar especificamente nos toques no braço, seguidos de um leve aperto ou um leve esfregar, ou no ombro, igualmente com um leve aperto ou com suaves tapinhas. Esses gestos costumam revelar uma afeição/admiração verdadeira, da parte de quem os faz, para com a gente. E, quando nos marcam, muitas vezes revelam a nós mesmos sentimentos de afeição que nem havíamos nos dado conta ainda que nutríssemos por outrem.

Há anos atrás, uma colega, a Gal, passou por mim no serviço. Já tínhamos um histórico de conversas informais, uma simpatia mútua, essas coisas. Mas ela passou, estava de saída, olhou nos meus olhos, com um sorriso despretensioso e tocou naturalmente no meu braço, esfregando-o de leve, a título de dar um até logo. Até hoje não esqueço daquele toque. Com certeza ela, espontaneamente, transmitiu uma afeição mais profunda para mim e eu, de minha parte, fui extremamente receptivo.

Foi todo o contexto daquele momento pessoal que determinou esse entendimento para mim. Na verdade confirmou algo que eu já desconfiava, embora não soubesse se era recíproco de minha parte. Aquele toque clareou meus sentimentos para mim mesmo. E eu lembro disso, depois de uma dezena de anos.

É assim também com vocês?

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né.)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 01/11/2013
Reeditado em 01/11/2013
Código do texto: T4552136
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