OBS: Desculpem se os meus textos são longos mas só sei escrever assim. O que poderiam esperar de quem fala pelos cotovelos? And actually, darling one that thinks my stories are rather too long: DO YOU THINK I CARE? Apenas quero escrever!
            

              MY GANG OF FIVE


Ganhei da minha Mãe uma bolsa no Natal de 1994. Uma linda bolsa tipo executiva para carregar meu material de trabalho: LIVROS. 

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A bolsa é parecida com aquelas usadas para carregar lap tops só que o tamanho dessa bolsa era um pouco menor e a espessura mais larga. Era uma bolsa executiva, preta e discreta que passei a usar logo no início do ano novo de 1995 quando dava aulas como free lancer em alguns bancos e empresas na Avenida Paulista.

A bolsa me oferecia todo espaço necessário para qualquer educadora e sua parafernália até mesmo um lugarzinho especial para um Tupperware com sanduíche, fruta e uma caixinha de suco. Só mesmo a minha Mãe para me presentear com algo super útil assim. Não tenho dúvida de que até o Batman teria ciúmes e aposentaria seu cinto de utilidades para ter uma bolsa igual a minha.

                      

Toda terça e quinta-feira, entre 19:00 - 20:30 eu dava aula para um grupo muito especial num banco inglês no 22° andar do prédio da Caixa Economica da Avenida Paulista. Porque especial? Por que com essa turma eu tinha que me superar ... sempre, além de estar bem humorada e disposta para a última aula do dia. Era uma tarefa que exigia muito do meu 'expertise'.

Todos os alunos já haviam viajado ao exterior e maioria havia morado na Inglaterra, EUA e Canadá por cerca de dois anos portanto queriam uma professora que soubesse mais do que eles e não menos. O mais bacana era que todos nós estávamos na faixa etária  32-36 que facilitava escolher os assuntos para os mais diversos debates e brainstormings em aula. Não havia motivo para censurar expressões ou palavras já que todos nós tínhamos o mesmo linguajar, lifestyle e comportamento.

O grupo eu carinhosamente chamava de "The Gang of Five". Naquela época havia uma banda cujo nome era "The Gang of Four" e estava bombando, aí resolvi apelidar o grupo assim apesar de nenhum deles terem vocação musical. O talento maior deles era o faro para a área financeira e eram todos feras, os tops daquela empresa.


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A banda musical se inspirou no 'Gang of Four' chinês que tinha nada a ver com música mas sim a política.

                     


Os integrantes do meu "The Gang of Five" eram: José Manuel, Klaus, Ricardo, Carmela e Virgínia. Cada um tinha lá sua simpatia, esperteza, talento e inspiração assim como cada um tinha fome em aprender ao fundo e dominar a língua inglesa com uma 'native teacher'.

Pois bem, um dia cheguei adiantada e encontrei o Ricardo sentado todo espaçoso naquela imensa sala de reunião do 22° andar que dava para Avenida Paulista toda iluminada. Tínhamos as nossas aulas nessa sala ampla e gostosa. O Ricardo é nissei, portanto tem lá o seu lado japonês que as vezes entrava em conflito com a sua brasilidade. Fui chegando e colocando a minha bolsa no chão quando o Ricardo fez cara feia e reprimiu dizendo, "Teacher, teacher ... não põe sua bela bolsa assim no chão não! Sabe bem porque, né." Sorri e respondi, "Sei sim, Ricardo! Bolsa no chão 'espanta' a sorte e o dinheiro, segundo algum provérbio japonês e o senhor não quer me ver pobre, certo?" Esse japa só tinha cara de sério durante o expediente e se soltava nas aulas. Ele deu aquele sorrisinho meio sacana e rindo falou, "Não, Teacher! Colocar bolsa no chão é nada higiênico, né? É coisa de palmeirense mesmo sua porquinha!" Não aguentei e tentei disfarçar o meu sorriso meio frouxo que queria dar risada que nem a Irene do Caetano. O Ricardo sentiu-se bem por ter feito a Teacher rir logo no começo da noite e falou, "Deixa o pessoal chegar! Vou atacar com essa piada novamente!"

Uns quinze minutos depois, "The Gang of Five" estava todo reunido. Reparei que o Klaus estava todo alegrinho e não resisti. Fui logo perguntando, "Que cara de felicidade! Será que a Gisele tá esperando em casa com um jantarzinho todo especial?" Bem rapidinho o Klaus botou sua sacola  parecidíssima com o Big Brown Bag em cima da mesa e anunciou, "Que nada! Chegaram as minhas camisas! O delivery do alfaiate trouxe agorinha!" Ele parecia um garotinho de cinco anos que acabava de  descobrir seu presente de Natal no armário.
                                

Vou explicar a razão por tanta alegria. É que nesse banco, cuja matriz fica na Inglaterra, tinha lá suas frescurinhas que acabaram virando parte da 'cultura' interna e todo mundo procurava seguí-la, principalmente os homens. E uma das tendências era a camisa feita sob medida pelo alfaiate do presidente que tinha discretas iniciais bordadas no bolso. Logo que comecei a dar aula naquele banco, percebi que todos da diretoria usavam as tradicionais camisas brancas com suas respectivas iniciais. Se a gravata fosse tal cor,  o bordado também era. O único que tinha todas suas camisas bordadas em vermelho era o Paulo Torres. Ele vivia dizendo que o PT dele só poderia ser em vermelho. Outra cor seria traição na certa.

Era quase uma missão impossível conseguir que o alfaiate do presidente do banco fizesse camisas para os demais diretores daquele banco pois ele era o alfaiate mais solicitado pelos tops da região da Paulista e também o antigo centro de São Paulo onde reinavam os bancos. Quando alguém conseguia fazer suas camisas sob encomenda com ele era um feito em tanto.

O José Manuel foi logo pedindo para ver as joias raras do Klaus. O Zé já tinha adquirido as suas camisas e estava na fila para fazer um terno agora. O Klaus num piscar dos olhos tirou uma das suas seis joias da sacola e a estendeu sobre o seu tórax para exibí-la. O Klaus ficou todo pomposo e dava pra ver o quanto que ele se sentia vaidoso com os elogios dos colegas. Quando eu dava ao Klaus os parabéns pela sua aquisição, o Zé soltou uma gargalhada daquelas. Todo mundo ficou parado olhando pro Zé cujo rosto estava ficando roxo de tanto rir. O Klaus pareceu ofendido com o deboche do colega e foi logo dizendo, "Ô Zé! Que palhaçada é esta? Qual é a graça meu? A minha camisa está lindona e elegante tanto quanto a sua! Pára com a risada, pôxa!" O Zé sossegou aos poucos mas aquele ar debochado dele permanecia no ar. O Ricardo debruçou sobre a mesa pro lado do Zé e perguntou, "Vai logo, Zé. Conta qual foi a graça toda." O Zé olhou o Klaus bem nos olhos e disse, "Vai mesmo usar esta camisa Klaus?" O Klaus respondeu com  convicção, "É mais do que óbvio que vou usar, né seu Zé mané! Esperei uns três meses por elas! Tenho mais que vestir uma amanhã pra inaugurar, não acha? Vou lavar e ainda secá-la  na secadora esta noite." Aí o Zé não se aguentou e explodiu de tanto rir.

Custou para aquelas gargalhadas pararem mas finalmente o Zé sossegou e falou, "Klaus, meu amigo, melhor você deixar a estreia para outro dia e pedir pro alfaiate retirar as suas iniciais com uma certa urgência."

Os olhos do Klaus fixaram no belo bordado naquela camisa feita sob encomenda e viu apenas as iniciais do seu nome: KH. A ficha não caiu talvez por sempre ter tido intimidade com aquelas duas letras desde que fora alfabetizado: KH. Vindo do Paraná e vivendo entre seus descendente alemães talvez nunca tinha percebido como soava aquelas duas letras juntinhas em nitido português. Confesso que até eu viajei na maionese pois meu cerebro estava ligado na pronúncia em inglês mas após uns dois minutos a ficha caiu e eu também passei a achar aquele KH na camisa do meu aluno de péssimo gosto.

Claro que o Ricardo tinha que dar o seu parecer: "Melhor mesmo pedir pra bordar com outras letras. Você não tem nome do meio não Klaus?" O Ricardo deu um sorriso sarcástico mas as meninas apenas advertiram o Klaus. A Virgínia aconselhou, "Melhor você levar de volta amanhã cedo e pedir pra trocar as iniciais." A Carmela também deu o seu parecer, "Klaus, esse K aí não cai nada bem com o H. Melhor mesmo você ter um nome do meio por que vai ser a maior gozação se aparecer aqui amanhã vestindo sua camisa com esse KH bordado nela."

Só aí então o Klaus prestou atenção total e ouviu o quanto aquelas duas letras juntas não combinavam.

   

Duas semanas após o ocorrido o Klaus apareceu ao trabalho vestindo a sua camisa nova feita sob encomenda e divinamente bordada com as letras: KD.

Nem é preciso dizer que o Zé mais uma vez riu que se acabou!
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 01/11/2013
Código do texto: T4551400
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