A questão da identidade Cultural de Camaragibe

Não é fácil ser de Camaragibe. Moramos há quinze quilômetros da megalópole devoradora de tudo e de todos. A nossa querida e também amada, Recife. Recífilis, Mauricéia Desvairada. Tem suas facilidades e oferendas de souvenires para conosco. Muito bom morar perto da praia de certa forma, dos grandes centros médicos e do comércio fortíssimo que é o da capital.

Mas, nisso também há o seu duplo. Primeiro pela questão do sentimento de pertencer. Lembro que há algum tempo atrás quando se perguntava há um jovem que morava em nossa cidade que padecia (padecerá ainda?) de uma baixíssima autoestima onde é que ele morava. E este prontamente dizia, no final da Caxangá, ou até mesmo em Recife. Não é difícil encontrar algumas pessoas que residem até mesmo na região metropolitana e por alguma imbecilidade fixa ou passageira pense que Camaragibe é apenas um desimportante Bairro de Recife. O que não é. O que não é. O que não é.

O que podemos fazer para gostar tanto da nossa Cidade Camará, sem trocá-la, ainda que figurativa e simbolicamente pela capital ou por outra qualquer. Penso que o indicativo do combate seja no mesmo patamar. Uma grande investida no campo idílico do imaginário. Do criativo. Da imagística.

Uma grande ação de todos os lados, de toda gente, de todos os níveis de governos municipal, estadual, nacional. Para assegurar o direito básico do povo gostar de si mesmo.

Como fazer isto? Não é fácil e nunca dependerá de uma só pessoa, de um salvador que redimirá a desesperança da ralé abandonada, fodida e mal paga. Da rafameia drogada, alcoólatra e prostituída, jogada às baratas nas ruas de esgoto a céu aberto. Da juventude sem tino e sua fuga para a maconha, para o crack, para a cola de sapateiro. Do povo de bem com destino incerto. É preciso e urgentíssimo um querer geral de mudança e transcendência. Mas ainda, qual seria o primeiro passo? Sei lá.

Talvez, os formadores de opinião, os vereadores, o prefeito, as lideranças comunitárias de fato e não as que aparecem apenas nas eleições leiloando o seu apoio, os locutores, os internautas, os blogueiros, os artistas, os artesãos e todo e qualquer cidadão que sabe que esperar não é saber. Colaborem em tornar a sua cidade mais bela, mais organizada, mais bonita, mais criativa...

Talvez é isto, precisamos de criatividade. O que vamos perdendo com o tempo no mundo globalizado e compartilhado. O capitalismo e sua voracidade desenfreada destroem rápida ou paulatinamente o nosso desejo infantil de mudar o mundo. Pela sua fome de consumir, de ter mais, de comprar o que não se precisa com o dinheiro que não se tem. É, é ele mesmo que nos torna mais isolados, paranoicos e angustiados em cima de nossas moedas ou nossos boletos.

Deixemos tudo isto de lado e nos demos as mãos numa luta aberta, clara e sem subterfúgios pela nossa identidade cultural. Pela nossa originalidade. E valorizemos o que é nosso, os nossos artistas e mestres, as nossas florestas, nossos jardins, nossos monumentos históricos, a nossa própria história e o que poderá ser mais além, com gosto, garra e bons sentimentos.

Como tornar Camaragibe um Cidade além do fato e do direito e, uma cidade realmente criativa?