Assedio

Ela estava no portão com os cabelos amarelados, as luzes das primeiras horas da manhã lhe fizera brotar um lindo sorriso no rosto jovial, o vestido de alças finas deixava a silhueta farta dos seios ser contornada com os olhos do jornaleiro que fazia mais uma entrega em um numero próximo. No chão de poucos metros à frente, um Ipê amarelo coloria feito cacos de giz de cera em folhas de Maternal. Seus olhos desviaram por alguns segundos daquele espetáculo gratuito da natureza, chocando-se com a servidão das vistas do Jornaleiro na direção dos seus peitos, que se agitavam livres do sutien. Constrangida Aguida pousou a mão com rispidez sobre o colo e virou-se batendo com força o portão. Sem adentrar a sala, ficou parada com a respiração ofegante, esperando que o Jornaleiro concluísse sua missão como sempre fazia. Observou a parede branca com uma rachadura que desenhava uma cabeça de pássaro, se aproximou e com o dedo indicador seguiu todos os pontos, até se dar conta que a campanhinha tocava.

Lembrou-se do jornaleiro e não quis dar o passo seguinte em direção ao portão, porém o som do chamado ficara mais alto e seu descontrole mais intenso. A rachadura sem importância de caráter lúdico que brotara na parede precipitara por alguns metros formando garras que se mexiam apontando para o portão. As romãs balançaram nas galhas se partindo como se fossem espremidas por mãos invisíveis. Um Gato branco de pelos fartos fugiu da sua direção como se pedisse socorro, o Colibri que bebia água doce na goiabeira voou para o interior da casa, enquanto a campanhinha soava cada vez mais alto. O cachorro urrava nos fundos da casa, como se fosse Lobisomem nos filmes que ela menos gostava, um grito da vizinha lhe fizera congelar, mergulhada entre as plantas, não entendia se era socorro que a mulher pedia, porém tinha ciência que era de medo.

De repente bates fortes se ouviu no portão, chutes, socos e um material que refletia o som, possivelmente uma pedra. Aguida agachada queria se aprofundar ainda mais naquele pequeno espaço, queria se fazer de um bicho batráquio qualquer, mas precisava se livrar da morte. Lembrara-se do ultimo filme sobre Jornaleiros, um rapaz que se parecia com aquele, era alto usava boné com a cara do Pato Donald e tinha um relógio no pulso esquerdo que não funcionava. Segundo ele o aparelho atraia as mulheres que se interessavam pelo seu brilho o convidavam para entrar em suas casas, onde ele as possuía e roubava todos os seus bens, antes de ir embora estrangulava suas vitimas com um lenço vermelho de bolinhas pretas que trazia no bolso direito da calça. Para ela naquele momento só haveria uma saída, fingir-se seduzida e na hora do ato sexual, morder o seu nariz com todas as forças dos seus dentes, conselho de uma Tia solteirona que se orgulhava de ter sido violentada sexualmente dez vezes, mas sempre se escapou com vida, devido às dentadas dolorosas.

Assim, mesmo tremula Aguida levantou-se do meio das arrudas, guinés, comigo-ninguém-pode, sete dores e samambaias, inteiramente disposta a acabar com a fobia do Jornaleiro assassino, deixou uma das alças do vestido soltar-se por acinte, e, abriu o portão com autoridade. O moço de semblante fechado e capacete na cabeça girava a chave da moto com nervosismo, sem dizer nada durante alguns segundos, esperou que a mulher tivesse a reação calculada por ele. Após o silêncio pedira licença, e entrara para sua casa. Aguida sorriu amarelo com seus cabelos amarelos, saltara alguns riscos no chão como se fossem Brincadeira de Amarelinha, pouco a frente percebera que o motorista de uma Van escolar olhava para suas pernas, com rispidez parara de saltar na brincadeira e aproveitando um descuido entrara no carro se trancando na parte de traz. Pensara no filme em que um motorista sequestra uma jovem e a leva para uma casa nas montanhas, onde tem um lindo Ipê amarelo na entrada...