AFINAL, QUEM SOMOS NÓS OS TUPINIQUINS?
Os tupiniquins e os tupinambás eram os primitivos habitantes na região central do país, onde aportaram os portugueses pela primeira vez. Hoje eles não são muito lembrados , apesar de a língua tupi ainda estar presente mais do que muita gente tenha conhecimento, no idioma português. Infelizmente, dentro de uma visão racista em relação aos índios,adotou-se o epíteto tupiniquim, para designar o que há lá fora e que, transposto para nossa realidade, sofre uma espécie de mutação para pior. Passamos assim, a ter atitude depreciativa de dominados,em relação à nossas características particulares, em uma atitude depreciativa de quem só valoriza o que vem de países ricos.
Desde que o mundo é mundo ,sempre houve houve opressores e oprimidos. Nem as maneiras de estabelecer esse domínio mudaram tanto. Assim fizeram os romanos em relação à Grécia e os portugueses, no momento em que começaram a explorar as riquezas do país, a partir de 1700. A receita é a mesma: impõe-se a língua do vencedor e a partir daí passa-se a um trabalho de desaculturação para facilitar o domínio. Em nosso país, enquanto não havia aqui interesse comercial, falou-se a língua tupi. Mesmo o padre Manoel da Nóbrega, falava fluentemente essa língua. No início do século XVIII, com o incremento da exploração de minérios, pedras preciosas e outras riquezas Portugal exportou para cá seus escrivães e outros funcionários encarregados da coleta e exportação dos produtos.Estes falavam e, principalmente, escreviam o português. Assim, aos poucos, a língua indígena foi se recolhendo para sítios mais restritos.
Quanto a nós hoje em dia, não escapamos ao individualismos doentio e selvagem resultante de uma visão capitalista numa sociedade onde os valores estão se degradando e onde tudo passa a ser permitido desde que gere lucros. O que vemos no mundo é essa febre de fazer dinheiro com dinheiro, grandes empresas como a Nike engolindo outras também grandes, numa antropofagia assustadora que põe na tela arrepiantes previsões dignas da mais audaciosa ficção científica. E, nesse contexto, a sociedade brasileira assiste à barbárie se instaurando em todos os seus níveis: são meninos ricos matando gratuitamente aquele que eles NÃO consideram um igual, como o índio Galdino, morto há alguns anos atrás, e isso está totalmente relacionado à visão de mundo de quem está em posição privilegiada. São meninos pobres virando bandidos capazes de qualquer coisa pois também respiram esses novos ares, com a agravante de se sentirem totalmente marginalizados e a tevê dizer todos os dias em lindos comerciais que se você não tiver isto ou aquilo, não será ninguém. Por que a Índia, com muito mais pobreza do que o Brasil, tem bem menor índice de violência?
Recebi na época da campanha eleitoral um email, onde um professor da USP deu-se ao trabalho de achincalhar o atual presidente com argumentações no mínimo impróprias para um catedrático de tão alto gabarito. Não creio que ataques preconceituosos contra a condição social de uma pessoa, sua raça ou seu defeito físico, sejam a melhor maneira de provar que um candidato é ruim. Entre outras coisas, disse que Lula é o Forest Gump TUPINIQUIM e faz sucesso lá fora como raridade, tal qual o mico- leão- dourado. Então comete RACISMO, depreciando a CULTURA INDÍGENA,ao usar a palavra TUPINIQUIM de forma pejorativa. Como aliás, vê-se muito por aí, "na versão tupiniquim..." de alguma coisa estrangeira logicamente muito superior. Que tipo de superioridade admiramos? Ou fomos condicionados a admirar por uma propaganda massiva e constante com o único fim de destruir os valores "tupiniquins"?
Tenho no meu quarto um balaio feito pelos índios. Deixei –o num lugar bem visível e nunca esqueço daquela mulher de olhos puxados no meu portão com um menino num braço e o tal balaio no outro. Aquela gente jogada pelas calçadas um dia foi dona dessa terra e não precisava mendigar para viver. Nós ainda trazemos na língua que falamos a música e a ternura desses povos ancestrais. Eles são nossos verdadeiros pais. A eles devemos, se outra coisa não podemos dar, pelo menos um grande respeito. Xingar alguém de tupiniquim é rejeitar sua própria identidade cultural, suas origens, isso sim, é se auto-depreciar como povo .