Paulistinhas
Caminhava à noite pela Rua Augusta, que até então eu só conhecia pelo Banco Imobiliário. Voltávamos de uma espécie de barzinho, eu e duas amigas, e caminhávamos na direção da Praça da República. As amigas, mais paulistas que o Mário de Andrade, me explicavam o que era cada coisa na rua, e eu me admirava que tanta coisa diversa pudesse conviver no mesmo espaço. Parece que o número de boates têm diminuído, mas ainda assim achei que eram muitas, e aqui e ali eu percebia uma prostituta buscando clientela. Quase tomei como uma delas a mulher bem produzida que vinha na direção contrária e nos parou. Disse que não era dali e estava achando aquela rua meio esquisita e queria saber se as casas de shows ali eram seguras. Minhas amigas disseram algo que a tranquilizou. E hoje eu posso dizer que, andando pela Augusta, faço parte das pessoas consideradas normais e que podem ser paradas por quem precisa de uma informação qualquer.
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Eu disse que nada havia acontecido no meu coração quando cruzei a Ipiranga com a São João, mas então Paula me explicou: eu havia feito tudo errado. Sem perceber, eu havia cruzado a São João com a Ipiranga. Era o contrário.
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Nas torneiras dos banheiros do Terminal Rodoviário do Tietê quase não pinga água. Cada um tem direito a meia dúzia de gotas – mas ainda é grátis.
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Em plena manhã de um domingo de sol, o Museu da Caixa Econômica está naturalmente vazio. No sexto andar há apenas um segurança à janela, de onde consegue enxergar a catedral em que o quase-papa Dom Odilo ministra uma missa. Mas a atenção do segurança não está voltada para lá, e sim para o forró tocado na Praça da Sé. O ritmo lhe agrada e em pouco tempo ele está cantando animadamente. Pego em flagrante, justifica-se: “Se não eu morro de tédio aqui em cima”.
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Ninguém acreditou muito quando falei que havia achado São Paulo uma cidade provinciana. “Curitiba crescidinha”, acrescentei. Não permita Deus, nem ao Oswald nem a mim, que morramos sem voltar a São Paulo.