AÍDA DE VERDADE

Aída é manicure, começou fazendo unhas em casa, único jeito de conciliar filhos pequenos e trabalho. Depois com os meninos estudando, fez muito pé e mão nos salões de beleza da cidade. Hoje, com clientela e os rebentos formados atende nas residências com visitas agendadas por celular. Vendo assim, lendo assim, a vida dela parece valsa, mas, não, não, não... a vida de Aída é ópera!

PRIMEIRO ATO

Recomeçou a trabalhar quando o marido num rompante pediu demissão do emprego e começou a beber. Com o passar do tempo parecia até que ele tinha viajado!

Aída ficou casada até se sentir absolutamente só e constatar que voltar - ele não voltava.

SEGUNDO ATO

Fazendo extra como caixa em clube nas matinês de carnaval e em bailes, comprou à prestação - a cesta básica com materiais para construção da casa e combinou com o dono da loja para entregá-la só quando ela pudesse dar início à obra.

Com a ajuda do irmão que tinha um amigo pedreiro, negociou o pagamento por empreitada. O primeiro grande passo seria levantar uma meia água no quintal da mãe, para se ver livre do aluguel.Depois, calmamente, em anos - conforme rezam as leis do orçamento apertado – com muito esforço daria a forma sonhada para o seu castelo.

TERCEIRO ATO

Às margens do rio, Paraíba do Sul, a incansável Aída, cedinho acordava os meninos - dois - e enquanto eles se arrumavam para a escola ela passava o café, cortava os pães e colocava neles o que tinha, se tivesse margarina, margarina; manteiga, manteiga. E se não tivesse pão, muito bem humorada decretava:

_ Hoje é dia de torrada!

Houve muitos outros grandes dias. O dia da panqueca, por exemplo, milagre da multiplicação do prato do almoço, quando se tem um ovo só e o dia do angu à baiana, feito com suculentos 150 gramas de carne moída e uma latinha de extrato de tomate pequena.

QUARTO ATO

Descontraída, mais bonita e cheia de energia - parou de fumar no início do ano - Aída comemora hoje 50 anos, com pompa, circunstância e máquina de lavar Brastemp comprada - à vista - pelos filhos.

Ao contrário da outra, a de Verdi, a Aída, de verdade, abraçada a seus amores é só alegria!

_ DJ, a Triunfal!