AGUENTA CORAÇÃO!

Percebi que se vestia. Mas isso não podia me dar a certeza de que estaria indo embora. Pensei que talvez fosse até a sala para ver televisão. Também poderia estar se arrumando para ir à padaria. Um café especial, bem gostoso, e iniciaríamos o dia juntos.

Abrindo os olhos o vi pegando as chaves, a carteira e outros pertences que estavam sobre a cômoda. Subitamente uma aflição tomou conta de mim e perguntei:

- Aonde você vai?

- Pra casa!

Um medo inexplicável me fez sentir doer o peito. Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Era só o começo de um feriado que eu havia planejado pra nós dois. Ficaríamos juntos, em casa, curtindo um ao outro enquanto passasse o tempo, até que adormeceríamos no nosso ninho de amor, ao fim do dia, depois de exaustos e plenos.

Enquanto eu processava tudo isso, envolta num turbilhão de pensamentos e questionamentos, ele continuava. Eu permanecia deitada. Ouvi o barulho da porta sendo aberta. Depois, os cadeados do primeiro e do segundo portão. De um salto, levantei e fui até ele.

- Você vai mesmo?

- Vou, Celça!

- Por quê?

- Porque sim!

Havia nele uma revolta, cheguei a perguntar por que estava agindo assim, e ele disse que não havia coisa alguma, apenas precisava ir.

Em vão tentei argumentar. Ele estava decidido. Nada que eu dissesse o faria mudar de ideia.

- Pensei que quisesse ficar comigo, já que hoje estou de folga e nos últimos dias não ficamos juntos. Então você veio só dormir?

Numa atitude desesperada, sem me importar com orgulho e amor próprio, pedi, supliquei, implorei pra que não fosse. Pôs o capacete, subiu na moto e foi saindo como se eu fosse nada. Parecia nem estar ouvindo o que eu dizia. Eu era ninguém naquele momento.

Voltei pra cama, derrotada, decepcionada, magoada. Desabei. O que mais eu poderia fazer além de me entregar ao pranto?

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 29/10/2013
Reeditado em 29/10/2013
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