Três amigos
Eram três amigos do peito. E de que jeito. Rapazes já em idade de se casar, queridos da sociedade, porém por sorte ou azar, ainda a boa fada que os levasse ao altar. Sistemáticos eram por natureza e o passar dos anos lhes agravara essa mais saliente certeza.
Paulim, o mais velho, que vira os próprios irmãos crescerem juntos jogando bola e farreando, Zemaria, caçula entre seus manos e Marcim, primogênito, feito o Paulim. Além de sistemáticos, eram todos balzaquianos, com
Paulim puxando a fila e Marcim ainda nos seus vinte e poucos mas quem o visse lhe dava logo mais dez, só pra que preenchesse o requisito básico daquela amizade trifásica.
Conquanto Zemaria e Marcim trabalhavam na companhia, dando duro de segunda a sábado, Paulim se privava de ocupação
regular, por pura falta de paciência, pois podia bem dar uma mão ao irmão Tarcísio na eclética loja do Palica, o pai, que vendia de peças de enfeite a pneus de bicicleta.
Mas os três amigos materializavam sua presença nas noites da cidade, principalmente aos sábados e domingos, no cinema, nos passeios pelo jardim, no refresco de algum bar, ou nalguma esquina lá pelo centro. Mas só até uma certa hora. Pois estavam todos assentes que o sereno fazia mal. E também as farras com bebidas, mulheres perdidas e outras peripécias da vida. Namorada só o Zemaria é que tinha, mas tão platônico seu jeito de amar e o dela, que o namoro só se fazia pela janela, nas suas idas e vindas da Companhia, quando sempre januária, Evelayne lhe sorria. E o tempo é que corria.
Um belo dia, foram os três passear na capital do estado, o Belô tão amado e movimentado. Tanto zanzaram pelas ruas da cidade que veio a fome com aquela voracidade. Mas onde o acordo para entrarem juntos numa lanchonete, chegar ao balcão e papar uma breve, ainda que leve, refeição? Depois de muita discussão chegaram a uma conclusão, não sem hesitação: compraram pastéis, logo botados num saco, ainda sem provar um naco, e saíram precipitadamente pela calçada para tomarem o lotação,que já encostava, bem na hora do rush - e ainda menino era esse tal de Bush. Zemaria, de saco à mão, quis passar pra frente o bornal, pois pra ele pegava mal assim ser visto mas neca dos amigos se solidarizarem. Jogou o saco no lixo.
Deixando então virar bicho.