Uma estagiária em apuros !

Sim, sim...Eu era uma estagiária com sede imensa de lecionar. Todo o sangue se derramava nos livros, atividades, buscas na internet, nos textos pedagógicos e no dia a dia suado com as crianças. Era uma sala de crianças de 3 e 4 anos de idade, algumas ainda saindo das fraldas. Poucas? Não, para o espaço mínimo daquela sala eram muitas, muitas crianças. Não me lembro ao certo a quantidade, mas minha memória se lembra do imenso barulho que faziam, ficavam mais debaixo das mesas e subindo nas cadeiras do que fazendo alguma atividade comigo, a estagiária que pela primeira vez assumia uma sala de aula como professora da turma.

Lembro-me que muitas vezes na confusão generalizada, parava no meio da sala, olhando algumas crianças perto da janela enquanto outras tantas rolavam no chão enlouquecidas, fingia que não estava ali. Segurava a respiração sem saber o que fazer, sentia minha boca e garganta se movimentando na tentativa de um grito, e saia algumas frases em som gago como : - Parem, desçam dai. Vocês, saiam debaixo da mesa. Pessoal, aqui, aqui comigo, pessoal. E nada, o barulho só fazia aumentar e eu sumir. Em uma dessas tardes densas, levei um susto quando a diretora da escola abriu a porta, olhou aquele fuzuê, olhou para mim, para a sala, e rapidamente fechou a porta como quem fosse me denunciar para a policia. Se eu me mexi? Não...não mesmo, dai que minha carne se fundiu a meus ossos e transcenderam meu corpo na tentativa de tudo virar fumaça, fiquei petrificada.

Mas todos os dias me olhava no espelho, me desafiando a continuar, mesmo todos os dias o mesmo espelho que me via sair de brilho nos lábios, voltar descabelada e insana. Uma tarde, lembro de um sol ter nascido num brilho calmo, dando um tom sereno a tudo, acariciava minha pele e sonhos e isso já dentro do ônibus lotado a caminho da escola, meus nervos não se manifestaram( como todos os dias..). Foi o dia mais perfeito de toda minha permanência na escola, até roda de conversa aconteceu, brincamos de lencinho branco no pequeno espaço, tentavam todos num só coro adivinhar os desenhos que fazia na lousa para chamar-lhes a atenção para uma próxima atividade. E tudo ocorreu tão bem, que comecei a confiar na minha capacidade. A porta abriu nesse dia, e que alegria, a diretora! Olhou para mim, olhou para sala e fechou a porta como se soltasse um alivio e um sorriso de confiança.

Agora, pergunto, todos os dias são iguais? Hummmmmm... não. Sabemos que crianças ficam agitadas quando vai chover, quando esta quente, quando estão com sono, cansadas, ou irritadas, quando a lua esta cheia...Oh GOD !... E quando vi, descobriram uma mangueira no parque, conseguiram abrir a torneira, e brincar deliciosamente de banho de mangueira, o que não deixou a senhora Diretora feliz, a escola não tinha uma proposta tão interacionista, se for falar a grosso modo.

Dispensaram meus serviços, e nesse dia me joguei no ônibus chorosa e desamparada, querendo virar arquiteta, cineasta, ou quem sabe uma física nuclear. Felizmente, temos outras histórias, e tive a coragem e vontade de continuar, e cada ano que se passa, novas experiências se filtram aqui dentro temperando minha profissão, meu caminho, novas decepções e claro...novos sorrisos ! .

Mariana Maria
Enviado por Mariana Maria em 28/10/2013
Reeditado em 01/11/2013
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