UM FIM DE SEMANA QUASE DESASTROSO
Maria Tomasia
Maria Tomasia
Estávamos no mês de setembro. Meu namorado e eu decidimos passar um fim de semana juntos, o que nunca havíamos feito, na serra, numa colônia de férias da qual sou sócia.
Passagens de ônibus compradas; sanduíches de atum caprichados para comer durante a viagem e muitos sonhos.
Encontramo-nos na rodoviária e começou a encrenca com o atraso do ônibus - velho, sem banheiro, motorista inexperiente e um grande congestionamento.
Após sairmos da rodovia e pegarmos a estrada que nos levaria ao destino, paramos em duas cidades para apanhar ou deixar passageiros. Numa delas ficamos presos num outro congestionamento e o motorista, mais uma vez, ficou todo enrolado não sabendo como pegar a estrada que deveríamos seguir. Finalmente a empresa de ônibus teve o bom senso de disponibilizar um funcionário para ajudá-lo a sair daquela enrascada.
A viagem que deveria ser de duas horas levou quatro. Ao nos aproximarmos da cidade onde deveríamos descer, fazia um frio danado e o vento fustigava, penetrando em nossos ossos. O pior é que meu companheiro vestia apenas uma camisa de mangas curtas, porque o seu agasalho estava na mala.
Às dezenove horas tomaríamos um ônibus interestadual para alcançarmos o lugarejo de destino e, enquanto esperávamos, o coitadinho tiritava de frio e eu nada podia fazer! Eu estava bem agasalhada, mas não podia ajudá-lo, porque o meu agasalho não cabia nele devido à sua grande estatura.
Finalmente o ônibus encostou e entramos. Ah, que delícia! Lá dentro estava quentinho! Eu me sentei do lado da janela e ele do corredor, e os passageiros não paravam de entrar... Quando o motorista deu a partida parecíamos sardinha em lata!
Meu namorado dava muxoxos, fazia caretas e bufava de raiva, principalmente quando alguém em pé se encostava e desmanchava o seu cabelo. Nessa altura, eu já não sabia mais o que fazer! Temia que ele não se controlasse e começasse uma briga, sendo linchado pelos demais passageiros.
O trajeto de apenas quatorze quilômetros demorou mais de uma hora para ser percorrido. O coletivo parava em todos os pontos e enchia cada vez mais. Tinha gente carregando de tudo: bolsas de compras, trouxa de roupa e até galinhas para o almoço de domingo; parecia o transporte de uma cidade indiana. O cheiro de suor que as pessoas exalavam era insuportável. Antes que o meu acompanhante perdesse o controle, finalmente chegamos.
Descemos e não sabíamos onde estávamos porque nada conhecíamos. A iluminação era precária e não encontrávamos a entrada para a recepção. O restaurante estava sendo arrumado para o café da manhã, pois o jantar terminara às dezenove horas e já passava das vinte. Procuramos alguém para nos atender, mas nada! Por sorte passou um funcionário e perguntamos como poderíamos nos registrar. Ele, com boa vontade, foi até a lanchonete trazendo a recepcionista toda serelepe, cigarrinho entre os dedos, que nos forneceu as chaves do quarto.
A coisa complicou quando procurando o quarto não encontrávamos o número citado. Meu companheiro caminhava na minha frente puxando a mala pelo carrinho e eu o seguia tal qual um cachorrinho. Ele fazia tantas reclamações que senti vontade de chorar. Dizia raivoso, quase gritando, "que estava velho demais para passar por aquilo; que não estava acostumado com um lugar assim; que aquele lugar não era do seu nível". Fiquei com tanta raiva que teria voltado para casa se houvesse ônibus. Era difícil conter as lágrimas.
Finalmente achamos o malfadado quarto. Desfizemos as malas, tomamos banho e fomos atrás de comida, porque não tínhamos almoçado e perdemos o jantar.
No lugarejo não havia restaurante! Fomos à lanchonete da colônia e a mesma recepcionista que nos atendera na chegada disse não ter nada do que procurávamos. O jeito foi pedir ovos e batatas fritas que foram preparados por ela sem se desvencilhar do cigarro.
Comemos, bebemos e fomos dormir. No dia seguinte, porém, e nos demais, tiramos a barriga da miséria: o café da manhã, servido muito cedo, era soberbo, tipo hotel cinco estrelas; o almoço e o jantar também.
Tiramos fotos, conhecemos as cidades vizinhas e fizemos compras. Para voltar da cidade para a colônia, contratamos um táxi que nos apanharia no dia da volta para casa.
Eu esperava uma lua de mel, mas só fizemos amor uma única vez. Nosso tempo foi dedicado a comer e a beber.
Dois dias depois o romance acabou, mas o “isso não é do meu nível” ficou na minha lembrança.
Nunca esquecerei aquele fim de semana que, por pouco, não se tornou desastroso.
RJ, Outubro de 2013
Passagens de ônibus compradas; sanduíches de atum caprichados para comer durante a viagem e muitos sonhos.
Encontramo-nos na rodoviária e começou a encrenca com o atraso do ônibus - velho, sem banheiro, motorista inexperiente e um grande congestionamento.
Após sairmos da rodovia e pegarmos a estrada que nos levaria ao destino, paramos em duas cidades para apanhar ou deixar passageiros. Numa delas ficamos presos num outro congestionamento e o motorista, mais uma vez, ficou todo enrolado não sabendo como pegar a estrada que deveríamos seguir. Finalmente a empresa de ônibus teve o bom senso de disponibilizar um funcionário para ajudá-lo a sair daquela enrascada.
A viagem que deveria ser de duas horas levou quatro. Ao nos aproximarmos da cidade onde deveríamos descer, fazia um frio danado e o vento fustigava, penetrando em nossos ossos. O pior é que meu companheiro vestia apenas uma camisa de mangas curtas, porque o seu agasalho estava na mala.
Às dezenove horas tomaríamos um ônibus interestadual para alcançarmos o lugarejo de destino e, enquanto esperávamos, o coitadinho tiritava de frio e eu nada podia fazer! Eu estava bem agasalhada, mas não podia ajudá-lo, porque o meu agasalho não cabia nele devido à sua grande estatura.
Finalmente o ônibus encostou e entramos. Ah, que delícia! Lá dentro estava quentinho! Eu me sentei do lado da janela e ele do corredor, e os passageiros não paravam de entrar... Quando o motorista deu a partida parecíamos sardinha em lata!
Meu namorado dava muxoxos, fazia caretas e bufava de raiva, principalmente quando alguém em pé se encostava e desmanchava o seu cabelo. Nessa altura, eu já não sabia mais o que fazer! Temia que ele não se controlasse e começasse uma briga, sendo linchado pelos demais passageiros.
O trajeto de apenas quatorze quilômetros demorou mais de uma hora para ser percorrido. O coletivo parava em todos os pontos e enchia cada vez mais. Tinha gente carregando de tudo: bolsas de compras, trouxa de roupa e até galinhas para o almoço de domingo; parecia o transporte de uma cidade indiana. O cheiro de suor que as pessoas exalavam era insuportável. Antes que o meu acompanhante perdesse o controle, finalmente chegamos.
Descemos e não sabíamos onde estávamos porque nada conhecíamos. A iluminação era precária e não encontrávamos a entrada para a recepção. O restaurante estava sendo arrumado para o café da manhã, pois o jantar terminara às dezenove horas e já passava das vinte. Procuramos alguém para nos atender, mas nada! Por sorte passou um funcionário e perguntamos como poderíamos nos registrar. Ele, com boa vontade, foi até a lanchonete trazendo a recepcionista toda serelepe, cigarrinho entre os dedos, que nos forneceu as chaves do quarto.
A coisa complicou quando procurando o quarto não encontrávamos o número citado. Meu companheiro caminhava na minha frente puxando a mala pelo carrinho e eu o seguia tal qual um cachorrinho. Ele fazia tantas reclamações que senti vontade de chorar. Dizia raivoso, quase gritando, "que estava velho demais para passar por aquilo; que não estava acostumado com um lugar assim; que aquele lugar não era do seu nível". Fiquei com tanta raiva que teria voltado para casa se houvesse ônibus. Era difícil conter as lágrimas.
Finalmente achamos o malfadado quarto. Desfizemos as malas, tomamos banho e fomos atrás de comida, porque não tínhamos almoçado e perdemos o jantar.
No lugarejo não havia restaurante! Fomos à lanchonete da colônia e a mesma recepcionista que nos atendera na chegada disse não ter nada do que procurávamos. O jeito foi pedir ovos e batatas fritas que foram preparados por ela sem se desvencilhar do cigarro.
Comemos, bebemos e fomos dormir. No dia seguinte, porém, e nos demais, tiramos a barriga da miséria: o café da manhã, servido muito cedo, era soberbo, tipo hotel cinco estrelas; o almoço e o jantar também.
Tiramos fotos, conhecemos as cidades vizinhas e fizemos compras. Para voltar da cidade para a colônia, contratamos um táxi que nos apanharia no dia da volta para casa.
Eu esperava uma lua de mel, mas só fizemos amor uma única vez. Nosso tempo foi dedicado a comer e a beber.
Dois dias depois o romance acabou, mas o “isso não é do meu nível” ficou na minha lembrança.
Nunca esquecerei aquele fim de semana que, por pouco, não se tornou desastroso.
RJ, Outubro de 2013