Diário de Sonhos - #047: Pirralho
Às vezes eu tenho sonhos que não parecem ser meus. Sei lá. Geralmente em todos os meus sonhos eu consigo estabelecer relações com coisas que eu vi, sinto, etc. Mas às vezes tenho sonhos que parecem saídos da cabeça de outra pessoa. Como se estivessem pairando por aí e fossem captados pela antena do meu cérebro. Isso me faz pensar sobre a teoria da inteligência coletiva (embora pareça mais uma burrice coletiva). Imagine um oceano de sonhos no meio da noite, onde eles interagem. Às vezes quando sonho com alguma pessoa, um sonho forte, me pergunto se aquela pessoa também sonhou comigo...
Eu sonhei...
Sonhei que estava num mercadinho, procurando algumas guloseimas. Coloquei algumas coisas no carrinho, mas antes de ir até o caixa conferi meu dinheiro. Eu tinha só dois reais e estava faminto. Fiquei pensando sobre qual produto seria melhor levar. Numa prateleira encontrei umas sobremesas de morango (tipo aquela sobremesa do McDonalds, que é uma massa frita com creme de banana quente dentro). Eram exatos dois reais. Mas eu estava era com sede. Peguei um suco e fiquei procurando uma máquina pra conferir o preço.
Agora estou na sala de aula do meu treinamento de bilheteria, com o senhor Israel. No entanto, a sala de aula é totalmente aberta. Não tem paredes, teto, nada. Só cadeiras e uma mesa grande. Estamos no meio do deserto, ao entardecer. A cena lembra até aqueles postos de gasolina de beira de estrada. A poucos metros de distância está o mercadinho. Meu estômago ronca de fome.
Agora estou no mercadinho de novo. Vejo minha mãe. Fico feliz da vida, porque agora vou pedir dinheiro pra ela pra comprar um lanche. Adentro pelos corredores do mercadinho e tudo vai ficando escuro. Passo por uma espécie de túnel e saio na plataforma de uma estação de trem da CPTM. Parece a estação da Luz, só que mais baixa e escura. Tem um trem parado. Duas viaturas policiais passam em disparada pela região dos trilhos.
Agora estou numa cidadezinha do interior. Faz um dia ensolarado e estou descendo por uma ladeira íngreme. Dois meninos passam correndo por mim, e logo atrás deles três moleques maiores. Eles alcançam os meninos e os derrubam no chão. Começam a dar chutes e pisar neles, e os meninos choram de dor. Eu passo direto por eles. Tem um carro parado na esquina. Peço pro motorista chamar a polícia.
Agora estou descendo de um ônibus. Um dos meninos também desce comigo. Logo atrás vem um dos moleques. O menino me diz que é o irmão mais velho dele, e que ele me segue porque quer ser músico como eu.
Agora estou chegando em casa de um passeio com os dois rapazes. Eu sou o pai deles. Não lembro o que eles disseram, mas eu respondi "tudo bem, sem mercado e nem hambúrguer então". O rapaz mais velho se aproxima e diz "pai, já que não vai ter almoço hoje, libera a grana aí pra mim jogar?". O menino mais novo se aproxima, pedindo a mesma coisa. Eu fico desgostoso com meus filhos, e penso: pirralhos...
Agora estou em casa. É de noite. Meu (ex) pai e meu irmão estão jogando videogame na sala. Meu (ex) pai sai. Sento ao lado do meu irmão pra ver que jogo é. Mario Kart. Começo a jogar também.
Agora estou no meu quarto (que antigamente costumava ser o quarto da frente, grande e com uma vista dos arredores. Fiquei puto quando minha mãe construiu a laje, pois bloqueou toda a vista). Abro a janela pra entrar um ar. A laje que existia na frente da minha janela foi transformada num estacionamento, daqueles de vários andares, e com um telhado que fechava tudo em volta. Espumei de raiva, mas aí parei e pensei que seria melhor, pois a luz do sol nunca mais ia me incomodar, não faria calor e seria sempre noite. Fiquei feliz.
Vinte e seis de outubro de dois mil e treze.