A Guerra de Princesa, de Tião Lucena
 
          À medida que nos distanciamos do episódio de Princesa, a historicidade nos amadurece, amortecendo antigas adversidades. Depois de inúmeros livros sobre esse assunto, de alguns consagrados autores, como Wellington Aguiar e José Octávio, surgem outros também com coragem de registrar o que faltou dizer à história, o evitado pela conveniência do “status quo”. Maior sinal disso aconteceu, quando Abelardo Jurema Filho, sobrinho neto de João Pessoa protagonista oposto a José Pereira, foi convidado por Aloysio Pereira para coordenar o lançamento do livro “Eu e meu pai o coronel José Pereira - 1930 – O território livre de Princesa”. Aloysio Pereira, conhecedor dos cochichos da cozinha à sala de visita do seu pai; e agora, Tião Lucena, colhedor de dados genuínos, nos bate-papos de bares, de ruas da cidade sobre “A Guerra de Princesa”.

          O livro de Tião é de uma linguagem coloquial e agradável, é de se ler num fôlego sem cansaço, ao alimentar uma curiosidade intensa.  Pinço, para se esclarecer o estilo, a página 35:“ Começa a guerra –  O tenente Arruda caminhava apressado para a casa do Coronel Zé Pereira, levando um papel na mão. Não respondeu ao bom-dia do velho Feliciano e não comprou a tapioca de Bilica como fazia todas as manhãs.(...) Encontrou o coronel saindo de casa para o telégrafo. O assunto era urgente e não quis arrodear:  - Coronel, acabo de receber um rádio da estação oficial da polícia, dizendo-me que está a caminho de Princesa, transportando-se em caminhão, uma força policial de 50 homens. E como sei que o senhor vai revidar, quero saber o que vou fazer com os meus soldados. - Fique tranquilo,Tenente, que nada lhe acontecerá . Mas telegrafe ao seu comandante, informando a ele que eu acho muito pequena a força que está marchando contra Princesa – respondeu-lhe Zé Pereira . O coronel Zé Pereira saíra de casa pra telegrafar a João Pessoa, que se encontrava em Cajazeiras...” Nesse texto, a leitura subjacente pode observar: No interior, o correio procurava o destinatário onde ele estivesse e o destinatário, a mensagem; a autoridade de Zé Pereira sobre o destacamento policial local; quanto o tenente e a população sabiam de Zé Pereira e  das suas eventuais reações; a ironia do Coronel sobre as tropas a caminho de Princesa; a correção do Coronel Zé Pereira em relação aos soldados do Estado no destacamento da cidade e sobretudo sua lhaneza com o representante dos seus inimigos, cercados pelos muros do seu reinado.

           O autor vai além, detalhando desencontros, entreveros, desentendimentos políticos entre João Pessoa e José Pereira, até batalhas entre pessoas da mesma cidadania, conterrâneos da mesma Paraíba. Prefacio assim “Roteiro da Coluna Prestes”, de Coriolano Dias de Sá: Muitas vezes, as nossas terras foram pisadas por pés de batalha: poucas perdidas, muitas vencidas. Mas quanto ao de Tião Lucena, acrescentaria: Na Guerra de Princesa, todos venceram, todos perderam; somente a história ganhou, somente o povo saiu vitorioso...