(esse texto foi feito pro Facebook, mas achei que devia colocá-lo aqui também.)
Qual o pior pesadelo que uma mãe pode ter quando seu filho ou filha desaparece de casa? Ela se pergunta o tempo todo se ele ou ela está bem, se está passando fome ou frio, essas coisas, não é? Pois imaginem que uma mãe, aqui em Porto Velho passou por esse pesadelo por 29 dias. O seu menino, Rodrigo, desapareceu no dia 06 de setembro e foi encontrado somente em 05 de outubro, e o seu pior pesadelo se concretizou: ele foi encontrado, ou melhor, o seu corpinho foi encontrado na mata fechada, menos de um quilômetro de onde morava, e, segundo os legistas morreu de sede e de fome. Eu fiquei muito, mas muito mal com isso. Estou mal até agora. Não consigo esquecer este caso. Eu fico imaginando a agonia pela qual passou, sozinho, este garoto, até não aguentar mais. Ele tinha 14 anos mas era franzininho, aparentando 10, e era além de frágil, surdo e mudo. Foi encontrado pelo Exército, num local de difícil acesso, disse a polícia, mas a novecentos metros de casa. Sabem lá o que é esta notícia para uma mãe? Saber que o seu filhinho estava tão perto e morreu tão só, tão desprotegido.
Na verdade, eu já estou mal desde que o Arthur Pietro, de 3 aninhos, sumiu, no começo de agosto,também aqui em Porto Velho, e acompanhei por vários dias pela tv a angústia da mãe. Até agora nenhuma notícia dele. A tv não mostra mais nada, nem os jornais, nem a internet, mas eu sei que ela continua sofrendo e talvez muito mais agora que soube de como o outro garoto foi encontrado. Muita gente aqui ajudou a espalhar cartazes pela cidade, mas vocês acreditam que houve casos de empresários que arrancaram os cartazes pregados nos seus estabelecimentos? Houve casos de monstros que ligavam para a mãe, passando trote. Gente! Passar trote numa mãe cujo filho de 3 anos de idade está desaparecido! Poucos dias depois do Arthur sumir, eu vi a foto compartilhada do João Rafael, aquele garotinho de 2 anos, lá do Paraná, e que até agora também não se sabe onde e como está.
Hoje eu li no site desaparecidosdobrasil.org que a cada 11 minutos desaparece uma pessoa no nosso país, na maioria crianças. De diversas idades e por diversos motivos. Muitos são encontrados mas milhares nunca mais. Que tristeza e que revolta isso me dá! Vocês não fazem ideia do tamanho da dor que eu sinto lendo essas notícias. Sabe, dessa cumplicidade apática da sociedade, que é capaz de mobilizar milhões de pessoas pela internet para salvar cachorrinhos e não é capaz de sequer compartilhar as fotos de crianças inocentes, completamente à mercê de todo o tipo de monstruosidade que o ser humano é capaz de cometer contra elas. Nos dias em que o Arthur sumiu, eu postei foto e video, sabem quantos compartilhamentos teve essa postagem? UMA. Só uma das minhas irmãs compartilhou o vídeo e do compartilhamento dela, nenhum. Na foto do Rafael, uns dois ou três compartilhamentos e mais nada. Eu não falo de estranhos compartilhando o que posto, eu falo dos meus amigos. Eu nem vou lhes dizer a quantidade de amigos meus me convidando para aderir a campanhas de proteção a cachorrinhos, porque perdi a conta. Não que eu não os ame, pelo contrário, eu sofri tanto ou mais até que os que sofreram por isso, mas a revolta com que eu ando não me permite admitir a possibilidade de comparar uma coisa com a outra. Ainda mais sabendo que estas campanhas estão no script do show “derruba Brasil” seguindo à risca todos os passos da chamada Primavera Espanhola, de 2011. Uma politicagem internacional de pega-trouxas.
Ainda não esqueci, e acho que nunca me esquecerei, da vadia que matou estrangulada a Lavínia, de 6 aninhos, pra se vingar do pai amante, e que já fez escola, pois que outra maluca repetiu exatamente a mesma coisa com outra criança. Ainda não esqueci que ao invés de pena de morte, lhe concederam a redução da pena. Um juiz, representante do Poder Judiciário, que é o último recurso a que a sociedade tem para proteger as suas crianças, entendeu que uma mulher que rapta e mata asfixiada uma garotinha de 6 anos não oferece risco à população. Postei a minha indignação quando li a notícia da redução da pena e sabem o que aconteceu? NADA.
O meu momento desabafo não é para os bilhões de humanos que povoam lugares distantes de onde me encontro. É direcionado aos meus humanos, que eu queria tanto, tanto, que fossem um pouquinho, só um pouquinho mais conscientes que todos os outros. Eu preciso tanto, neste momento, saber que a minha família e os meus amigos, pelo menos leram esta porcaria toda que eu escrevi.
Depoimento da mãe de Arthur Pietro, desaparecido desde agosto
http://www.youtube.com/watch?v=ZfcYZNuNRbA