Eram oito da manhã. O trânsito, como sempre, atrapalhando a vida dos trabalhadores, estudantes e transeuntes atrasados, estressados logo cedo.
Os ônibus e carros arrastando-se a dez quilômetros por hora. De repente, tudo para. Ônibus, carros, motos, até bicicletas ficam sem saber como prosseguir. Lá na frente, a explicação: um motoqueiro estatelado no asfalto, sua moto estrangulada entre um carro e um poste.
Curiosos, adultos, idosos, crianças aparecem de todos os lados. Para pedestre há sempre um espacinho de onde vislumbrar os dramas do cotidiano.
Veio o camelô vender balas, chicletes e água para os motoristas de olhar parado, como seus carros. O malabarista amador joga bolas coloridas para o alto, na intenção de ganhar algum. A criança, vigiada pela mãe ao longe, vai de janela em janela dos veículos pedir aquela moedinha para ajudar em casa.
Chega o socorro para a vítima, que é transportada ao hospital. O caos vai se desfazendo, como bolhas de sabão ao vento. Os carros voltam a se arrastar, os assistentes vão se espalhando, lentamente, em busca dos afazeres do dia.
Dali a pouco ninguém mais se lembrará do motoqueiro, ninguém ao menos perguntará: Terá sobrevivido? Terão avisado a família? Quem se importa?