Portabilidade
Moisés, o profeta bíblico, deve ter passado uns bons “bocados” com aquelas pedras todas, aquelas aonde Deus lhe informou os 10 mandamentos.
Imagina andar pelo deserto inteiro, sem nenhum destino a vista, carregando aquele peso.
Sem querer ser desrespeitoso, mesmo com a ajuda de animais, o serviço deve ter sido uma barra.
Além das pedras, ainda havia a necessidade de se ter a mão - para qualquer emergência: um retoque nos mandamentos, um aparo de arestas, sei lá - as "canetas", quero dizer, a marreta e as talhadeiras que deveriam ser de vários modelos e tamanhos para "escrever", ou melhor, talhar, os diversos tipos de letras e números.
Muito tempo depois, obviamente, se inventou a imprensa, invenção esta que veio para facilitar e para revolucionar o transporte das letras. Mas se os transportadores ganharam com a redução substantiva do peso, continuaram com o problema do volume, pois os livros eram de tamanhos um pouco inadequado para o transporte em grandes distâncias: sofriam avarias irreparáveis com a chuva, a umidade e as travessias por rios e mares. Fico pensando na corte de D. João VI em sua fuga desesperada para o Brasil em 1808. Imagina a portuguesada embarcando aquelas enormes caixas da biblioteca real, que D. João, homem letrado e culto, fez questão de trazer. Além das queixas dos que foram abandonados à própria sorte com Napoleão por causa de uns meros "livrinhos reais". Sinistro não é?
Chegando mais para os nossos tempos, o pessoal que curtia escrever passou a carregar máquinas de escrever portáteis a tiracolo. Era o supra sumo da época - algo aí por volta do começo do século passado (século XX). O povo entrava em um café e começava a escrever. E olha que, mesmo portátil, eram objetos com um formato de transporte bem desconfortável, ergonomicamente falando. Além de pesar uns cinco quilos ou mais, havia a necessidade de se portar uma certa quantidade de papel, o “cara” saia de casa com uma bagagem digna de viagem transatlantica.
No final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado - Não vou cair na asneira destes jornalistas "analfas" que dizem: na década de 1980, na década de 1990. 1980, 1990 é um milhar e década é dezena, logo: na década de 80 ou 90 do século passado ou do século XVIII etc,etc - surgiu o aparelho de fax, coqueluche entre os aficionados por novas tecnologias, permitia o envio de textos e imagens (em baixíssima qualidade, vale frisar) para qualquer lugar do globo. O que teve de gente desenhando contorno de pé e enviando para aquele amigo que havia viajado para o exterior pedindo um sapato importado, foi de se perder a conta.
Já deu prá perceber que nesta época aí a vida estava ficando mais fácil para o povo transportar suas letras não é?
E neste mesmo período inventou-se o celular, liberaram a internet , apareceram os primeiros computadores – ainda grandes, pesadões, com pouquíssima memória – os compact disc (CD's) e coisas e tal.
Hoje lê e escreve-se em qualquer lugar que se deseje. Neste exato momento escrevo em meu Ipod viajando em pé no lotado metrô carioca. Não saio de casa sem meu "pen drive", que cabe na palma da minha mão com sobra e, onde carrego diversos textos, livros, fotografias, até filmes.
Ainda tenho a opção de guardar meus arquivos em um HD virtual e acessá-los de onde eu quiser, de graça!
Lápis, canetas, borrachas e (pasmem) papéis, são “quase” coisas do passado. Os próprios CD”s, que chegaram como solução para arquivamento de dados, já se encontram aposentados de suas mil e uma utilizações
Fico imaginando se na época de Moisés já houvesse esta tecnologia a disposição: já pensou? Moisés "linkadão" com Deus em um "chat celestial", enviando torpedos e arquivos de voz lembrando aos destinatários que seus atos não condizem com o mandamento “x” ou “y”, ou mais ainda, emails com arquivos em PDF anexados, para a toda humanidade informando os últimos mandamentos a serem seguidos em caráter emergêncial.
Ia ter mandamento até para tomar cafezinho, Seria tal e qual as NBR's brasileiras (Normas Brasileiras de Regulamentação): prolixas e profusas, mas isto já é uma outra história, que contarei em um outro momento oprtuno.
19/10/2013