UMA QUESTÃO DE FÉ

Pela imensa passarela que liga a antiga Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida até a nova Basílica que se descortina imponente no Vale do Paraíba uma multidão vai passando. Ali estão pessoas de todas as cores, de todas as classes, e de vários credos. Sim de outros credos também que talvez vão ali pela curiosidade, pelo valor histórico-cultural do lugar ou simplesmente movidos pelo desejo de viajar e conhecer um novo lugar. São inúmeros como os grãos de areia de uma praia. Vão sorridentes, cantando, fazendo orações. Mas no meio de todo esse povo, ela se destacou. Era minha primeira visita na cidade de Aparecida e também a primeira vez que atravessava a tão famosa passarela. Mas algo me fez parar por uns instantes. Ela estava lá no meio do povo, na sua aparência de uma mulher de seus 30 e poucos anos. Fisicamente parecia bem e também através de seus olhos emanava uma paz radiante, daquelas que muitas vezes a gente busca e não encontra a vida toda. O que a movia naquele momento? Fé? Esperança? Desespero? Incertezas? Quais sentimentos que a faziam atravessar aquela longa distância daquela forma? Caminhava de joelhos, lentamente, apoiando-se na grade de proteção existente na passarela. Não aparentava ter pressa. Em compensação sua determinação era clara e evidente. Estava a pedir? A agradecer? A pagar por algo que havia alcançado? Não se pode saber as respostas e elas não virão nunca. Mas no meio da multidão passante, alegre, festiva, ela se destacou dos demais. Outros também caminhavam ajoelhados, mas tinham aparência de cansados e tristes. Ela no entanto irradiava tranquilidade, paz e uma fortaleza impressionante. E foi assim. Atravessou a passarela, chegou a Basílica determinada continuou a subir os degraus até que se deparou diante da pequena imagem da Santa de Aparecida. E lá chegando a sua prece foi curta, simples, direta e cercada de emoção. Com os olhos em lágrimas apenas orou: OBRIGADO. Fiquei pensando o que moveu aquela mulher em toda a sua caminhada de joelhos, e o que aquele obrigado poderia significar em sua vida. Impossível descobrir. Esse obrigado poderia ser um pedido que foi alcançado, algo que ainda está pedindo mas que a certeza de ser atendida já a fez agradecer, um reconhecimento por ter se sentido amparada e protegida. São muitas as possibilidades de se traduzir aquele simples obrigado. No entanto não se pode negar que ele foi a manifestaçao da fé daquela mulher, e se tudo na vida é uma questão de fé naquele momento ela estava tornando a sua explícita. Depois disso minha viagem a cidade de Aparecida tomou um outro rumo e um novo sentido. E mesmo depois de ter voltado para casa, ainda me lembro daquele obrigado dito de forma tão simples e orante. Não há necessidade de fôrmulas difíceis e complicadas, não há um meio correto ou errado de se orar. Existem orações com fé e sem fé. E aquela mulher no meio de tanta gente provou que para ter fé basta ser simples e humilde. Com certeza aquilo que chamamos de Deus, Jesus, Jeová, não importa o nome, deve ter olhado naquele momento para a mulher e lhe deu forças para alcançar seus objetivos. De tudo o que visitei na cidade de Aparecida do Norte, de tudo o que vi e presenciei, sem dúvidas o OBRIGADO da mulher de joelhos diante da pequena imagem da santa é sem dúvida o que mais me marcou, por ser a mais genuína e sincera demonstração de fé.

Em homenagem aos companheiros de viagem a Aparecida do Norte: Naiele, Maria Elenita (Tita), Maria Adnalda, Paulo Roberto e Maria Heloísa e a todos os peregrinos e romeiros do fim de semana do dia 18 de outubro de 2013.