O Dia que o Público virou Particular
Centro de São Paulo. Sábado à tarde. Corri para pegar o ônibus que abria e fechava as portas em clara intenção de partir. Bati três vezes no vidro, o motorista abriu a porta com a cara mais feia do mundo e o cobrador me olhou com surpresa.
Escolhi tranquilamente o local onde passaria a próxima hora até chegar a meu destino. A cada parada eu olhava para a porta e ninguém entrava no ônibus. Comecei a ficar desconfiada, um pouco aflita com a situação raríssima.
Outros ônibus com o mesmo destino passaram com quantidades consideráveis de pessoas e eu ali sozinha. O cobrador de um dos carros com passageiros até bisbilhotou os lugares vagos e quando me viu acenei para ele como quem estava numa limousine.
Depois de perceber que era o caminho certo - não peguei o ônibus errado - decidi relaxar e curtir a viagem, estiquei as pernas, recostei no banco e fiquei numa boa vendo a vida passar pela janela ao som do puro Rock and Roll.
Mas, não é que bem no finalzinho do trajeto dois passageiros embarcaram só para quebrar o meu clima de exclusividade. Eles ficaram surpresos quando passaram por mim antes de descer, afinal, assim como eu eles pensaram que o público havia virado particular.