DUAS VIDAS? I PODE?
Nasci na década de 50, um tempo em que o maior luxo que se podia ter era um rádio com caixa de madeira, uma geladeira à querosene, uma ida ao cinema vez ou outra para ver filmes em preto e branco, viajar de trem maria-fumaça que levava quase 10 horas entre Santa Maria e Porto Alegre, ler às escondidas as revistas de fotonovelas e por aí vai. Adolescente, já nos anos 60, entrei de cabeça na nova moda que incluía a mini-saia acompanhada das reclamações do pai, a calça Lee comprada uma vez por ano na Argentina, o tênis e a camiseta e, principalmente, o o rock and roll que nascia, fazendo estremecer pais, tios e avós que não entendiam como se podia aguentar aquele som dos Beatles e dançar daquele jeito despudorado do Elvis Presley. Comparado ao que se ouve e se vê hoje em dia, Elvis teria uma auréola de anjo e o som dos Beatles não passaria de um bolero agitado! Sem sombra de dúvidas, minha geração viveu duas vidas em uma só existência. A primeira antes da revolução dos costumes que modificou radicalmente a sociedade vigente até então e a de hoje, quando corremos atrás da tecnologia que parece estar sempre à frente do nosso cérebro de 50. Em contrapartida, as crianças e jovens já vêm com os neurônios afinados com todos os "i" que circulam por aí: iPad, iMac, iPhone, iPod. A nós só resta, de boca aberta frente a esses pequenos gênios da tecnologia, dizer ih! com "h". Ou só "i" pode?