A VOZ DA NATUREZA

A santa criatura ia todos os dias ao parque público próximo de sua casa. E por ali ficava um tempão danado, sem vontade de voltar. Caminhava descalça, sem pressa alguma. Mandava beijos ao sol, sorria para o vento, conversava com as plantas, trocava confidências com os pássaros e recitava poemas para o gato pardo e sem dono, mas igualmente filho do Pai.

Saía do parque em paz com o mundo, tão leve quanto uma borboleta.

Mas nada, nada mesmo, lhe dava maior satisfação que conversar com a velha e frondosa árvore que ficava a poucos metros do portão de saída. Era sempre sua última – e mais longa – parada. Tinha certeza de que a árvore a ouvia com a máxima atenção, compreendia seus sentimentos e que só não lhe respondia por uma única razão: árvores não falam.

Mas, eis que um dia a árvore falou:

-- Querida criatura, três coisinhas: não fume antes de me abraçar, seu bafo é insuportável; não pise nas minhas raízes; por fim, um pedido: vá vender sua loucura em outra freguesia.

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 22/10/2013
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