Tão humanos tão artrópodes

As vezes se passa pela vida mal sabendo o que é viver. Passar pelas ruas é ter a confiança plena no empirismo de que as relações pessoais são o real motivo de estar vivo pois, viver não é algo, é estar algo, e nesse mundo tão caótico sobra a certeza daquele que vive, que é a morte, tão inconsolável que nos faz adiar, mas tão consolável que tem o papel de limitar os males mundanos, pelo menos para aqueles que não creem numa entidade superior. Outra dúvida surge, para aqueles que não acreditam numa força motriz, num ser superior, num Criador, o que estaria por trás disso tudo? Como explicar a experiência transcendental de um sonho, tão real que nos assusta?

Talvez algumas perguntas possam ser respondidas pela ciência, a arte do humano de provar empiricamente aquilo que o homem não foi capaz? Mas não seria esse o nosso mito moderno, uma forma técnica, cibernética, avançada de explicar nossa origem? Precisamos ser consolados...

O ser humano social, racional, político se imagina muito superior, chegando a estudar os animais “inferiores”, admirando seus prodígios limitando-os as suas proezas, mas não seria o humano aquela mesma barata que passa por uma pupa, amadurece e enfim vira uma borboleta?

Somos mesmo baratas, baratos, mundanos, e nossa pupa é mais do que uma cápsula, uma exposição explícita ao que se chama de mundo, e nossas borboletas são os exemplos, os idosos, que sábios demais, ignoram os limitados olhos da sociedade diante de sua “plurimatização”.

Imaginar nossa evolução é pensar no feto, na criança, no adolescente, no adulto, no idoso, e no meio de tudo isso as relações... O que é ser criança? É brincar, dançar, pular, jogar tudo para alto, não ligar para o que se fala sobre, é ser adulto sem o pudor da sociedade, é ser barata podendo voar, e o adulto é um exemplo da limitação doentia de um ser, é separar o que ainda fantasia com o que tenta fantasiar... O adulto é a criança frustrada, aquela que teve uma epifania, um estalo da vida avisando que você cresceu, está aí, se vire, você é ADULTO!

Gozado demais perceber o que um adulto é capaz, sua infância partida teve uma repercussão tão intensa que esse vive de tentar voltar, chamamos de imaturidade, de nostalgia, palavras com sentidos negativos, mostrando mais uma vez que o que limita a espécie é mesmo a pupa, a elucubração, o pensar além demais, que de todo não é ruim, só é usado para colorir as asas de quem tem olhos daltônicos. Não é raro ver adultos andando de bicicleta, assaltando geladeiras, tornando-se alcoólatras, se prostituindo, todos são reflexos de uma natureza metamorfoseada, a fase pupa, mudando a intensidade do insight de realidade. Para suprir meninices reprimidas o mundo moderno inventou os prazeres, o fast food, as guloseimas... E como não olhar para uma praça de alimentação e perceber normalmente pessoas almoçando e deixando a carne para o final, escanteando o mais saboroso, uma verdadeira prolongação do prazer, visto que sendo adulto pouco da vida lhe apraz, somos tão humanos, mas tão animais.

E nesse vai e vem de revoluções, processos, ilusões, transformações, que levam os indivíduos que conseguem a liberdade total do crivo das baratas, a fase borboleta, em que se pode voar sobre tudo, observar com privilégio o que acontece, fumar um cigarro, tomar cafés, e fazer tudo que se tem vontade, ouvindo, no máximo, um: “Deixe ele, está velho”. Quando a idade chega temos a mesma pureza de uma criança, regredimos nas atitudes, passamos de intelectuais a infantis, e voltamos a balbuciar sílabas, comer doces e dormir cedo, uma regressão pelo avanço. Incrível a capacidade de um humanoide entrar por uma história e enveredar por caminhos nunca dantes navegados, mas com firmeza se vive, com fé ou não se convive. A vida, é mesmo um equilibrar sem fim numa ponte pênsil, sem saber de onde veio, para onde vai chegar, por vezes adicionar mais um a ponte, por outras ter que deixar o mar levar, e esperar que o mundo resolva a hora certa de me levar...

Gabriel Amorim 24/09/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 21/10/2013
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