Quando o amor emudeceu.

De todas as últimas vezes que o seu amor emudeceu, aquela, sabia que seria a vez derradeira. Tantas vezes eu te disse adeus que já me perdi nas contas mais parecendo um imenso colar de uma viúva chorosa. Talvez as nossas histórias tenham sido feita para o adeus, pois construímos uma existência sempre na esperança de um de nós ir. Fomos felizes juntos na mesma proporção em que fomos infelizes, pois o meio termo não fez parte das nossas vidas. As dores caminharam paralelas às alegrias, assim como os sorrisos e as lágrimas se revezavam como uma grande brincadeira de criança. Este último adeus me faz refletir como vivemos esperando que o outro mudasse como se fossemos duas crianças à espera da vida crescida chegar.

Entretanto, o futuro adulto chegou e não nos quer juntos, ficamos muito diferentes ou sempre fomos muito desiguais. Não víamos essa diferença, talvez pela paixão excessiva, falta de tempo, trabalho em demasia ou porque nos víamos, falsamente, tão iguais que não nos distinguíamos um do outro. Sim, amor meu, fomos feitos sob medida para o adeus. Crescemos e nos tornamos dois seres tão mal-humorados que mal suportam ouvir a voz do outro. O mundo se fez diferente e nos tornou tão desiguais que quase não entendemos como um dia fomos tão felizes juntos nesta mesma dimensão. Parece que o mundo ao qual habitamos juntos existiu numa versão paralela que fica muito mais bonita nas fotografias não existentes na nossa estante. Vejo nossa história como aquelas narrativas que mostram personagens esquisitos: como os meninos da terra do nunca ou em algumas letras de música: “bem mais que o tempo que nos perdemos, ficou pra trás também, o que nos juntou”.

Mesmo que fiques, pois nunca vais pela tua covardia que anula tudo ao teu redor, a nossa história já não existe. Espero, um dia, uma vida em liberdade com a mesma certeza do nascimento do sol em todas as manhãs. A única maneira de continuarmos juntos, tão desiguais como estamos, seria aceitar a conformidade da vida medíocre que me ofereces, isso podes ter certeza, será jamais. Lembra? O meio termo nunca existiu em nossas vidas. Prefiro que a morte me alcance ante a aceitação de desta vida insignificante e solitária: “ a lembrança do silêncio, daquelas tardes, daquelas tardes, havia algo de insano, naqueles olhos insanos, olhos insanos, os olhos que passavam o dia a me vigiar, a me vigiar...”

22/09/2013

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 21/10/2013
Reeditado em 22/10/2013
Código do texto: T4535668
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