A prima
Minha prima de terceiro grau, filha da minha madrinha R, era uma pessoinha problemática. Tanto que, na minha memória de infância, não me lembro dela na casa da minha avó. Muitas coisas me marcaram e ocuparam lugar na minha lembrança. Mas ela não. Nem ela nem o pai dela, meu padrinho. Do tempo em que vivi com minha avó, mais ou menos até os quatro anos de idade, pouco ou nada me lembro da convivência com eles. Apesar disso, ela, com seus problemas, viria a ser um dos fortes motivos da minha ida para a casa da madrinha. E assim também a minha companheira de infância, desde que saí da casa da Doiê, e seguindo companheira adolescência afora.
Era uma criança nervosa. Roía as unhas até quase sangrar. A mãe, numa atitude extrema, colocou luvas amarradas em suas mãos para que não roesse as unhas e ela então se contorcia tentando roer as unhas dos pés.
Tinha problemas de visões ruins. Muitas vezes acordava à noite gritantando e dizendo que estava vendo isso e aquilo e agindo como se realmente estivesse vendo monstros e afins. A madrinha angustiava-se muito. Tentou muito do que pode para transformá-la e nada. Indo ao médico, foi aconselhada a lhe dar um irmão. Surgiu assim outro problema. Ela não conseguia mais engravidar. E, nesse clima, eu apareci como uma providencial solução.