A Medida Certa do Passo
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Edward saiu para correr naquela tarde nublada, quando viu que estava bastante frio e, como não tinha roupa apropriada, decidiu ir correr na esteira da academia mesmo. Ali entrou com sua garrafinha d´água e começou penosamente o trabalho muscular. Entretanto, o começo parecia duro demais, até para ele que havia se alimentado corretamente. Decidiu seguir em frente a corrida, um passo após o outro. A estratégia? Havia decidido pela perseverança. E assim fez, passo a passo, minuto a minuto, e com muito sucesso: 6 milhas em 65 minutos. Alongou!
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Aquele dia havia sido ganho naquele momento. Ali, o jovem Edward esboçava um sorriso contrastado com o azedume de sódio que estava misturado em suor. Ao abrir a porta da academia para bater em retirada, o clima externo demonstrava o rigor do frio que batia sobre a pele descoberta. Correu para casa e preparou um rápido iogurte integral com banana e granolas.
Correu para o banho enquanto podia, sem ao menos olhar para os lados, sem dar qualquer chance que fizesse com que colegas de casa o interrompessem. Focado!
(***)
Tomou aquele banho quente que o aquecia e fazia o descanso de guerreiro. Assim, que pôde se enxugou e correu para o recinto sagrado de silêncio, localizado ao fundo do quarto, logo dentro daquele cubículo. Pequeno para ser qualquer cômodo mas, gigante, para um armário.
E assim fez o seu silêncio por exatos 20 minutos.
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Naquele dia, os pensamentos o atacaram no momento de silêncio embora o hábito de ali se sentar imóvel era para justamente aquietá-los; Nada poderia garantir maestria de dedicação, foco e resultado definidos. Pelo contrário, os pensamentos pareciam o apunhalar enquanto lhe tiravam a atenção para a meditação. Seria tão complicado assim se manter focado apenas na própria respiração por tão pequena soma de minutos?
Ufa! O tempo havia terminado; como um monge espartano, ao término do tempo, deu um leve sorriso enquanto sutilmente abria os olhos. Ali se encerrava a meditação, qualquer bom ou ruim tivesse sido!
Naquela altura, a coluna estava equilibrada em posição estática por tempo suficiente que começou a doer. Então sentado como estava, apenas escorregou-se da almofada para o carpete. Assim procurou esticar as pernas, tentando alcançar o máximo que pôde com as mãos, esticando os braços, coluna e músculos da perna.
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Levantou-se, e mais uma vez se deu conta de ter ganhado o dia. Então correu para a cozinha, pois já estava com fome novamente, já que o exercício físico aumentara seu metabolismo pelas próximas horas. Um prato digno: Arroz, Feijão, Peixe. Maçã para hidratação do atleta! Faminto, devorou toda suculenta comida em poucos minutos, enquanto que nos intervalos entre garfadas, poderia comer e oferecer maçã para os outros habitantes daquela casa.
Edward, que já não aguentava mais, poderia abrir um botão na calça se assim estivesse vestido. Mas não o fez, pois usava pijama de elástico, que dava folga suficiente para expansão de seu estômago empanzinado! Assim, com o cuidado de alguém que tira carteira de motorista pela primeira vez, manobrou o corpo em movimentos cautelosos até a pia. Ali, como quem não deixa pra depois, lavou toda a louça, ou melhor, colocou tudo na lava louças mesmo, já que aquela tarefa seria sua triste obrigação por toda semana.
(*****)
Mais uma vez Edward correu para o quarto. Mas desta vez, a missão era continuar "Siddartha", livro de cabeceira o qual estava em cima do prazo de validade para ser relido.
Por uma hora percorreu as páginas daquele capítulo. "The Childlike People", da versão em inglês, era extenso e digno de apreender-lhe os ensinamentos. Muito de virtude se via no jovem Siddartha, pois não deixava se abater por qualquer coisa. Via em cada problema não o tempo ou viagem perdidos mas sim, por outro lado, a oportunidade que cada circunstância lhe apresentara. Ao terminar de absorver tamanha sabedoria, Edward pensou. Isso durou cerca de trinta minutos pensando, em pensamentos inconscientes, refletiu profundamente durante todo esse cochilo que havia tirado.
De repente, acordou com seu colega de quarto, "O Ranzinza", entrando e dizendo que aquele estava com problemas, e deveria se consultar com algum médico por dormir tanto ! Uma vez ignorado, "O Ranzinza" saiu; e enquanto isso, Edward acordara rejuvenescido e, de pronto pulou da cama, pois sabia que deveria fazer mais uma refeição e terminar o estudo sobre conquistar mulheres. Algo que soava como coisas de Nerd, ele bem deveria saber. Mas não pelo fato de que muito daquela teoria, parecia fazer algum sentido na prática. Tipo Um, Dois, Três, Quatro; denominações, à parte, terminou a noite assistindo ao UFC 166, desperdiçando seu tempo ao ver Cigano perder mais uma luta para Velasquez...
Perseverante que é, Edward ainda procurou meios de abrir o "Manual da Sedução", mas o trabalho ficou difícil sem um alvo prático, senão se contentar com o que a imaginação poderia oferecer. E , em se tratando de instintos, ou melhor interação com mulheres, o melhor é praticar. E sem um resultado à vista, fica toda vontade meio esquecida, e Edward foi deixando pra depois, postergando, como gosta de fazer com o que não vai fazer!
Planejamento e pensamentos demais tinha o jovem Edward. Inversamente proporcionais, muitas foram as ações que ficaram no mundo das idéias para o dia de hoje; escolhas desacertadas mas talvez tão certas para o momento. Abrir uma cerveja e assistir à luta talvez tenha sido a melhor escolha para um Sábado à noite. Ou seja, numa noite assim, se for pra ficar em casa, que seja para dividir a companhia de alguém.
Como diria Siddartha, não foi um tempo da ilusão do "dever" perdido mas um momento para celebrar quando assim devia ser!
Prolixo em seu texto foi Edward naquele dia.