Diário de Sonhos - #046: Seu Edson

Seu Edson é um amigo que conheci no trabalho. Um senhor de 60 anos que é quase um paizão pra mim. Hoje eu sonhei com ele.

Sonhei que estava dentro de um ônibus vazio e em alta velocidade. Era noite. A cidade passava galopando velozmente pela janela. O ônibus desci por uma infinita ladeira, ganhando mais e mais velocidade a cada segundo. Então a inclinação da ladeira começou a diminuir, aos poucos foi se tornando uma reta e logo começou a subir. Logo à frente havia uma enorme rampa. O ônibus voou no ar com violência e graça.

Agora estou no quarto do meu amigo Alexandre. Por todas as paredes há centenas e centenas de livros, mangás e histórias em quadrinhos. Ele está sentado na cama, concentrado jogando videogame. Eu estou no chão sentado de pernas cruzadas. Reparo que meu jeans está rasgado no meio das pernas, e morro e vergonha. Aviso que tenho que ir embora, que preciso dormir cedo, mas Alexandre sequer me nota. Saio do quarto.

Agora estou no colégio onde cursei o ensino médio. Estão dando uma festa com o tema infantil. Reconheço muitos dos meus colegas de classe, inclusive o Bibiano. A festa é estranha. Um caos de cores, vozes agudas e fofura. Então chega a polícia, quebrando tudo, jogando as pessoas no chão e espancando-as. As cores se apagam e tudo fica cinzento e vermelho. O que antes era uma festa agora é uma zona de guerra. Monstros parecidos com zumbis começam a brotar das sombras e tanto policiais quanto festeiros são atacados. No meio do caos encontro meu amigo Edson. Ele diz que precisamos fugir dali, mas antes temos que pegar algumas coisas pra sobreviver. Passamos por lojas e quebramos vitrines, saqueamos o que podemos. Enchemos duas mochilas com frutas, pães, água e outras coisas que não lembro. Saímos correndo, mas no meio da confusão me perco dele.

Agora está tudo cinza e azul escuro. Estou andando pela calçada deserta e passo na frente do que parece ser a entrada do Metrô. Da escuridão salta uma criatura e rouba minha mochila. Não consigo ver direito, só sei que é pequena e muito rápida. Fervo de ódio e corro atrás da criatura a uma velocidade fantástica. Passo por túneis e galerias com seres estranhos, vestindo capuzes negros e com bicos de tucano e óculos brancos. Persigo a criatura, saltando e evitando todos os obstáculos pela frente. Finalmente a encurralo. Estou numa sala muito escura, pintada de vermelho. Na verdade, o chão e as paredes possuem uma textura como se eu estivesse dentro de um órgão humano. Mais alto na parede há um enorme ventilador, por onde entra uma luz fraca. Olho para a criatura. É uma coisa muito bizarra. Ainda tenho a imagem nítida na minha mente, mas não consigo descrevê-la por completo. Ela media cerca de um metro de altura. Ela era uma bola cheia de nervos, como se fosse um cérebro. Não tinha boca e nem olhos, mas tinha pernas e braços humanos muito desproporcionais ao seu tamanho. Na parte frontal, perto das pernas, haviam grandes saliências, como se fossem ossos da costela saltados. Na minha cabeça apelidei a criatura de "homem-bola-costela". O monstro revirava minha mochila. Cheguei sorrateiramente por trás e o chutei com toda força. Ouvi o som de ossos partindo. A criatura voou e se arrebentou contra a parede. Ela emitia sons bizarros de dor e sofrimento, se mexia descontroladamente, como se estivesse levando um choque. Peguei-a pelos braços e a arrastei até o centro da sala. Algo nos sons dela me dizia como se ela estivesse pedindo misericórdia. Ainda segurando os dois braços dela, pisei com todo meu peso nela. Ela gritava mais e mais alto, se debatia com mais e mais força, mas eu continuei pisando nela, sem soltar seus braços, continuei pisando e pisando, quebrando cada osso, amassando cada órgão, até que sua vida tivesse acabado, e meu ódio cessado.

Agora estou de volta à entrada do Metrô. Encontro o Seu Edson e o xingo por não ter me ajudado. Ele pede desculpas e diz que precisamos de armas. De dentro da escuridão do túnel do Metrô, vejo algumas figuras humanas brancas pairando estáticas no ar, como fotografias flutuando. Sinto medo.

Dezenove de outubro de dois mil e treze.

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 19/10/2013
Código do texto: T4532108
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