Filhos, melhor é tê-los. E só os tendo, o sabemos.

"Pai, se a Terra está solta no espaço como é que a água não cai?" Explico a lei da gravidade... "Pai, se o Sol atrai a Terra como é que não atrai também a Lua?" Explico que atrai e que a Terra atrai também... "Mas se o Sol atrai a Lua, como é que fica escuro de noite?" Explico a rotação... "Mas se a Terra roda, como é que a Lua não roda?" Explico que já está muito tarde e que é hora de dormir e que vou levá-lo para cama de cabeça para baixo "igual a um morcego". Nem terminei a frase e vem a resposta: "que bom! então não preciso ir para a cama, porque morcego não dorme de noite!"

Banho com meu filho Dudu, que brinca e olha bem focado para a água: "Pai, por que a água escorre da mão e a pedra não?". "Dudu, eu acho que o Heráclito fez a mesmo pergunta!" "É??? Pai!!! Eu estou filósofo e nem sabia!"

Há tempos (sem jogo de palavras...) percebemos que a Lua conta o tempo em sua forma peculiar, com sua própria lógica temporal. O Dudu era assim ao escrever. Ela respeita bem as regras escritas. Mas o “tempo” para ela é diferente. Não tanto quanto para os grego antigos com seus Chronos, Kairos e Aeon. E nem tão “em dúvida” quanto Santo Agostinho, que disse que, para ele, o tempo era aquilo que ele entendia perfeitamente quando não lhe pediam que explicasse. Agora são 20:00 e já anoiteceu. Ela brincou de subir em árvores e de cabra-cega “hoje” pela manhã. Para ela isso aconteceu “ontem”. Acabamos de ver “Muito Além do Peso” e, como já é noite, ela diz que vimos o filme “hoje”. Eu vou deitar com ela até ela dormir e amanhã, quando acordarmos, ela vai dizer “o papai dormiu comigo hoje”. Na escala dela, o “hoje” começa quando anoitece e termina no pôr do sol do dia seguinte. É divertidíssimo conversar com ela sobre os eventos do dia escalas de tempo diferentes do nosso padrão...

Lua, aos três anos, indo dormir: "pái, eu não gosto de dormir" Filha, por quê?" "Eu não consigo fazer um monte de coisas quando fico dormindo!" "Filha, tem um monte de coisas boas ao dormir" "Pai, não tem nada de bom" "Você acorda descansada para brincar!" "Pai, eu não estou com sono!" "Você sonha" "Pai eu tenho sonho ruim com o Lobo Mau e a Cuca" "Filha, não tem nada bom em dormir, então?" Ela pensa... Uns trinta segundos de silêncio e ela abraça suas bonecas e bichos de pelúcia: "Tem, pai! Eu abraço meus amiguinhos e eles não ficam com frio... E tem você pai! Fica aqui comigo? Dorme aqui comigo?"

Ruís Ferdinando Falsíssimo
Enviado por Ruís Ferdinando Falsíssimo em 19/10/2013
Reeditado em 27/10/2013
Código do texto: T4531869
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.