Língua Falada: zelando ou “gerundando”
Aquelas pessoas enturmadas naquele grupo que formava a primeira turma “Melhor Idade” da Universidade para a Terceira Idade dava o quê pensar.
Eram ensinamentos vivos de experiências. E quanto da vida prática tinha para compartilhar?!
Eram pessoas que eu tinha visto em seus antigos postos de trabalho enquanto eu não passava de um inexpressivo adolescente. Eles já prestavam serviços à sociedade se abstendo de estudarem em suas idades correspondentes para isto.
Eram exemplos de que cada homem e mulher trazem consigo o tempo que viveram. “Vamos estar exemplificando e comentando” isto nos parágrafos abaixo.
Como filhos de uma época de extremo rigor gramatical tinham receio de se expressarem por escrito e eram fiscais dos textos uns dos outros. Eles possuíam uma caligrafia que era verdadeira obra de arte – quantos cadernos para isto de linhas paralelas tiveram que preencher para exercitarem aquelas letras?
Também cobravam maneiras de se fazer da escola antiga. Sentiam-se perdidos sem referências das “chamadas”, provas e notas. Não entendiam a liberdade, compromisso e leveza de estudarem sem estes instrumentos do “Vigiar e Punir” - segundo Foucault - e não se sentiam alunos sem eles.
Mas... Recorri a esta memória de minha prática como professor para uma reflexão entre o rigor do antigo e a “permissão” do novo ao modo de se expressar, mesmo oralmente.
Se antes havia uma cobrança de excelência com o que se escrevia ou se falava tornando as pessoas receosas, hoje há pessoas que se orgulham de seus gerundismos falados em alto e bom som e com o peito arqueado.
Ouve-se sempre: “vamos estar enviando”, “vamos estar mostrando” e por ai vai.
Tão engraçado – ou triste – é o uso das preposições como falar em vez de “para”, quando do uso de telefone ou celular, usarem “no” (em + o):
-Estarei ligando no sicrano!
-Vou ligar no beltrano!
O certo é que zelando ou “gerundando”, o importante é ser feliz! Os linguistas sorriem e os gramáticos remoem suas entranhas puristas.
E por zelo com que escrevo, meu texto ficaria mais bem redigido se nas expressões usadas entre aspas acima eu tivesse grafado “exemplificarei e comentarei nos parágrafos abaixo”; “enviarei”; “mostrarei”... Viu como soa melhor!
De vícios a língua se renova e eu e “vosmicê” vamos nos adaptando mesmo escrachando, ainda que o ouvido doa.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 19/10/2013.